Naquele espaço pequeno e confortável... Marília Villela
Naquele espaço pequeno e confortável sentada em um sofá com algumas almofadas jogadas aleatórias como para me desejar boas vindas. Não me lembrava da decoração. Mas de longe parecia hostil. Fui entrando sem cerimônia e contava na cabeça os minutos que passavam. Do lado de lá olhos que rechacavam qualquer possibilidade de fuga. Não queria fugir. Deveria estar ali mentalizando problemáticas da vida e perguntando a mim mesma questões dolorosas que talvez respondessem traumas e gavetas do passado. Parecia complicado conhecer a mim mesma mas era animador ter as respostas tantas vezes ignoradas. Não saberia dizer por onde começar. A vida me parecia tão evasiva. Era difícil aprofundar e aprofundar até alcançar o gatilho. Era difícil perceber o quão era responsável pelas falhas. Era doloroso cutucar a ferida sem anestésico. De vez em qdo vinha o desejo de maquiar as más tendências e tocar em frente procurando ser menos protagonista. Às vezes querer ser figurante era cômodo. Mas não poderia. Não seria Justo. Viveria minutos de agonia. Somaria angústia misturada com uma pitada de confusão. Mas era natural que fosse assim. Buscava respirar e esperava que as minhas células fossem oxigenadas. Meus olhos estavam secos mas meu coração pulsava a medida que gesticulava achando razão para a maluca tendência de ser distraída e totalmente descuidada. Era sim. Tinha essas deficiências. Precisaria ser mais atenta. Sim. Ser mais cuidadosa e caminhar numa velocidade compatível com a via. Ser menos impulsiva. Sim. Não me perder nadando contra o fluxo. Equilibrar-me. Dosar as reações. Sim. Faria isso. Um dia aprenderia a ser tudo sem transbordar o copo d'água!