A menina || O líquido percorre a... Andréa Tomaz

A menina ||

O líquido percorre a transparência do cristal.
Não chega à borda, não pode chegar.
A menina grita no silêncio, pede socorro, mas se controla, precisa parar.
Todos os dias, há tanto tempo que nem consegue contar.
Mais um dia, mais uma luta, mais um passo a dar.
E a vida se passa e ninguém a notar.
Ela sorri a disfarçar, sim precisa ficar.
Rimas pobres, diretas ao ponto, quem julgará?
A preocupação não é com rima não.
Quero aqui é denunciar
O descaso com a menina que vive a chorar.
Ela vê irmãos a brigar.
Pobreza, solidão, nenhuma compaixão.
Pessoas estranhas em sua casa entrar.
A tristeza , o medo e o desespero vão formando o vulcão, que um dia entrará em erupção.
Não, não desta vez, ainda não.
Ela lê, estuda com muita atenção.
Apenas na escola porque é a única opção
Chega em casa não tem nenhum canto de paz,
Isso ainda não parece nada demais.
Mas agora ela olha para a professora e não mais consegue ouvir sua voz,
Perdida em sua tristeza,
Sente apertar-se os nós.
Aos 13 anos já vai aprendendendo a se virar
Um trocado aqui e outro ali, ainda nada demais.
Aos 15 o esquecido vulcão dá sinais. Não , não é agora não.
Aos 17 para a escola voltar não quer mais.
Ela grita, por dentro.
Grita para si mesma. A agonia e o desespero tomaram conta.
Só depois de muito tempo conseguiu ser notada.
Ainda bem que não foi Tarde Demais.
Ainda bem que não foi Tarde Demais.
Ainda bem que não foi Tarde Demais.