O APRENDIZ DE FEITICEIRO Devorador... Eric Jó Lopes
O APRENDIZ DE FEITICEIRO
Devorador gentil
de livros embebidos em saber
Já não existe nesse casa
coisa nova para ler?
Procurou por um ofício
que sustentasse esse seu vício
E em uma loja de livros
decidiu trabalhar
- Pode me chamar de mestre
dizia o seu patrão
- E se já quer começar
então comece pelo chão!
- Posso ler o que quiser
se for rápido como um coelho?
- Pode ler o que quiser
menos o livro vermelho!
Aceitou sinceramente
ficar longe do livro carmesim
Mas quando o Mestre saiu
sabes que não foi bem assim
De pronto leu a capa
"Manual do feiticeiro"
- Vou conquistar a fama
fama pelo mundo inteiro!
- Aqui aprendo feitiços
feitiços de transformação
- Posso ser o que quiser
águia, cavalo, dragão!
Decidiu voltar pra casa
e testar o que na cabeça vinha
- Eu tenho o que não tinha
agora sou uma andorinha!
Entrou em casa pela janela
com o livro em desatino
- Adeus meu bico fino
agora sou um menino!
Mostrou o livro ao pai
e disse que tinha um plano
- Agora ficamos ricos
com a arte do engano!
- Vou virar um boi bem gordo
o senhor vende na feira
- Depois de um tempo eu volto
então deixe de besteira!
- Mas é preciso amarrar esse lacinho
tire sempre que me vender
- Assim eu volto a ser humano
e o senhor vai me reconhecer
- Na feira tudo deu certo
tirou laço e me vendeu
- Depois voltei a ser humano
o comprador nem percebeu
- Amanhã serei um cavalo
seguimos com nosso plano
- Não esqueça dessa fita
ainda quero ser humano
No dia seguinte
o cavalo estava lá
E na feira da cidade
o seu Mestre quis lhe comprar
Ofereceu muito dinheiro
pediu que deixasse o laço
Aceitando a condição
No cavalo deu um abraço
- Acho que mesmo com o laço
ele consegue se safar
Mas para a tristeza do pai
o garoto demorou a voltar
O mestre de tudo sabia
manteve o cavalo em sua estrebaria
Enquanto o menino aprisionado
pensava no que fazia
Por ironia do destino
um garotinho ali passou
Viu a fita no cavalo
e então desamarrou
Virou logo uma andorinha
cheia de satisfação
Mas o Mestre bem espertou
virou um grande gavião
Na fuga, por cima do jardim
avistou um princesa do dossel
- Chega de ave no céu
agora sou um anel!
Ao cair das alturas
no colo da princesa
O gavião agora era um príncipe
cheio de delicadeza
O príncipe reclamou o anel
esse foi o seu gatilho
- Sei que fui um mal filho
agora sou um grão de milho!
Caindo sobre a grama
se perdendo com um estralo
Mas o mestre bem esperto
a essa hora era um galo
O menino estava imóvel
como um mariposa
- Nem marido nem esposa
agora sou um raposa!
De súbito cresceu uma raposa
saiu do meio do capim
O galo nunca percebeu
como chegara o seu fim
O garoto agradeceu
contando então o seu segredo
Para a princesa que o salvara
colocando o anel no dedo
Mal agradecido com o mestre
e desonesto em suas escolhas
Decidiu queimar o livro
sem restar nenhuma folha
Perigosa era a magia
daquele livro vermelho
Decidiu parar por ai
o aprendiz de feiticeiro