NAVE NEGREIROS Alves! Belo é teu poema... Negreiros Neto

NAVE NEGREIROS

Alves! Belo é teu poema
Mostrasse de forma plena
Os horrores e as tormentas
Vividas naquele lugar

As noites sangrentas
Os dias de terrores
Que tardavam a passar

Mas, há de haver controversas.
Nave que liberta?
Ou Navio pra escravizar?

Não eram animais selvagens
Que ali habitavam
Eram homens de pele negra
Que por ali passeavam

Os grilhões que hoje
Insisti em nos aprisionar
Reacende a chama
De um futuro melhor
Para aquele que virá

Rotas que levam mundo a fora:
América, Ásia, Europa.
Todo sofrimento que nos assola
Já teríamos vividos em outrora
A busca do novo é que nos consola

Nave Negreiros não tarda a chegar
Muitos morrem sem te encontrar

Por aquele que com o dom da sabedoria
O brio do Rei possa apagar
E por influência do curandeiro
Vão lhe sacrificar

Por aquele pensador ao crer
Em um único Deus supremo de paz e amor
Será condenado e morto
Por um Rei cruel e ditador

Por aquele jovem guerreiro
Que por ordem de um vil curandeiro
Vão lhe sacrificar
Para o Deus da Guerra, acalmar.

Nave Negreiros não tarda a chegar
Muitos morrem sem te encontrar

Por aquelas belas meninas
Que por inveja da rainha
Aos Deus da Primavera
Vão lhes ofertar

Por aquele valente guerreiro
Que por expressar seus sentimentos e desejos
Vão lhe aprisionar por questionar
E ao pô do sol, executar.

Por aquelas mulheres magras e feias
De pobres tetas
Que Reis e Guerreiros rejeitam
Vão morrer de trabalhar

Nave Negreiros não tarda a chegar
Muitos morrem sem te encontrar

Para aqueles pobres e desagregados negros:
Nave Negreiros
Para aqueles ricos e chefe guerreiros:
Navio Negreiros

Por mais que padeça
Nessa dolorosa jornada
Sair a busco de algo
É melhor que permanecer sem nada

O chicote que mim açoita
Não arde mais que minha esperança
A sede que me mata
Jorra água na minha perseverança

Nave Negreiros não tarda a chegar
Muitos morrem sem te encontrar

Vislumbro delírios
Em uma nova aurora
Nave que tanto sonhos decolam
Na busca de algo que não se sabe agora.

Nave Negreiros
Nave náutica de viés econômico
Agora transportas sonhos
Desses descartáveis escravos
Riquezas de muitos

Instrumentos ideológicos do desenvolvimento
Justificativas de transações sociais
Para atender necessidades
Humanas e comerciais

Nave Negreiros não tarda a chegar
Muitos morrem sem te encontrar

Fora da ordem genealógica
Sem clãs e linhagens
Para sempre servo e escravo
De uma obscura barbárie desumana

Negros e Negros
Travam-se uma batalha
Na busca de uma perdida
Identidade Africana

Panteão dos Deuses
Protegeis esses pobres negros
Da vil ganancia
Do poder e do dinheiro

Nave Negreiros não tarda a chegar
Muitos morrem sem te encontrar

Ala central do teu porão negro
Neste transepto cruzeiro
Nave, Nave, Nave ...
Nave Negreiros

Não tarda a chegar.