E, de repente ela acordou. Estava... Bruno Mamprin

E, de repente ela acordou. Estava assustada, um pouco atordoada, tentando entender o que passou. Ruas pavimentadas, iluminadas e bem planejadas davam o tom. Achava estranho mas, estranhamente, dentro da sua mente aquilo tudo parecia ser algo bom. Como se fosse intuição ou algum dom.

No café que frequentava viu Seu Firmino, um conhecido pai-de-santo, se aconselhando com um rabino.

Continuou sua caminhada, mas, por todo lugar que passava, estranhava e se perguntava: " Que será que foi o ocorrido?" Tá tudo estranho, no lugar indevido.

Nem os veículos se engarrafam como antes. Por quê? Me sinto coadjuvante, quase uma meliante. Por que ninguém me nota, ninguém me aborda- se perguntava incessantemente.

Percorria quilômetros buscando respostas mas a cada passo só acumulava mais dúvida e agonia.

Num lapso rompante se lembrou do telefone, vou ligar pra uma amiga, ela poderá me salvar, ou melhor, me explicar - como é que tudo está bagunçado - mas está tudo em seu lugar.

A decepção foi imensa quando percebeu que, naquela calça larga, nem bolso havia.

Alucinações e desespero começaram a tomar conta quando, numa praça em frente a igreja avistou pessoas dançando, cheias de cores e brilho.

Fez o que não tinha feito até então. Se olhar. Se surpreendeu quando se viu, banhada em cores vivas e borradas por todo rosto, corpo e cabelo. Foi tomada por um misto de leveza e estranheza, num ritmo estranhamente familiar.

Uma música alta invadia seus poros.Tentava se comunicar, mas aquele som estava sempre um tom acima e as pessoas apenas sorriam, cantavam e dançavam. Sua voz sequer chegava.

Percebeu que nem tudo tem resposta. Ou, não a que busca.

Não pertencia mais àquele mundo de outrora. Tudo tinha mudado.

Deixou o som levar e permaneceu ali. Nem se lembra mais do que teve de deixar para trás.

Pois o que lhe restava eram apenas cores e músicas….Nada mais.