Para: As 7 Pessoas com quem Sonhei... Vinícius Marciotto
Para: As 7 Pessoas com quem Sonhei
Sente-se aqui
Para: O Tempo
Algo estava desconexo. Algo estava me falhando à memória. Havia eu esquecido algum detalhe? Não sabia. Estava perdido.
Andando pela sala da mansão de Lúcia, encontrei Laila em frente à lareira, outra vez. Disse "bom dia", mas ela sequer respondeu. Andando pouco mais, até a cozinha, Lúcia estava de costas, no fogão. Toquei seu ombro, mas, ela não se virou. Perguntei-me se algo como um sonho pudesse estar acontecendo, por isso, decidi caminhar até os corredores.
Para minha surpresa, outra vez encontrei Luna sentada à janela, mas, assim como as outras duas, ela parecia não me ver. Sua mão direita apontava uma porta à sua frente e seu rosto, era inexpressivo. Sem muitas opções, dirigi-me até lá.
Ao girar a maçaneta e empurrar a porta, encontrei sentado em uma cadeira, com os pés sobre a mesa, eu mesmo, encarando meus (ou seus) olhos. Era você. Dei alguns passos para trás, assustado.
"Eu não entendo... O que é isso? O que está havendo?"
Confuso ao ver levantar-me da cadeira e andar em minha própria direção, congelei, apenas esperando o que havia de acontecer. Você tocou minha face com as pontas dos dedos e declarou:
"Tais coisas são complexas àqueles que são escravos do Tempo. Permita-me libertá-lo de tuas correntes"
Meus olhos assim se fecharam, enquanto minha boca automaticamente proferia em uníssono com a tua, as imagens que presenciara, transcedendo as noções de tempo e espaço:
"Era tudo trevas
Sem caminho para ser trilhado
Talvez, se eu me virasse,
Perceberia que estava enganado
Mas, para trás, não se olha,
Sim, sempre à frente
E o caminho, de fato, se fez
É bom encontrá-lo novamente
Como outrora, a esfera de luz aparece e se corrompe
Dando forma àquele que outrora a interrompe
Tu, tinhas minha pele,
Minhas cores, meu corpo, minha face
Era como se, no espelho,
Meus próprios olhos, encarasse
Disseste que a ti, havia de devolver
Para que as dores da vida,
Fosse capaz de esquecer
Mas então, ao tocar tua mão
Tudo, outra vez se dissipou
E nos leitos de meu fim, outra vez, o corpo vazio se levantou"
Minha visão outra vez retornara, embora não abrisse os olhos. Em minha frente, meu corpo ainda me encarava, com um sorriso aconchegante e olhar amável. Afagava-me agora tua presença, e enquanto flutuando, sentia um conforto inexplicável.
"Estava sonhando" - Falei, ainda que não movesse nenhum lábio.
"Não mais importa o que havia sido, apenas, o que é" - Respondeu, calma e suavemente
Pensei em lhe questionar sobre aquele que se foi, mas, antes de sequer questionar, fui respondido:
"Aquele que se foi lhe aguarda ansiosamente. Não importa se era, é, ou há de ser. Estais aqui, diante de mim, por outro motivo: Sei de seu sonho e quero que o realize. Ele tem a chance de trazer luz ao Mundo, curá-lo da doença que o infecciona".
Enquanto tentava falar, percebia que não mais produzia sons. Sequer, podia escutar, mas, ainda assim, sentia as palavras daquele à minha frente, que outrora, havia chamado de eu.
"Tuas feições aqui ficam, mas, ainda sois tu, ainda tens algo a dizer e lhe dou essa chance. Não importa quantas barreiras ficam à sua frente, como disseste sobre outra face de mim, meus ventos derrubam tuas paredes. Então vá e não tema, sois de mim e sou de ti. Sabes o que fazer".