Para: As 7 Pessoas com quem Sonhei... Vinícius Marciotto

Para: As 7 Pessoas com quem Sonhei

Permita-se subir à Lua

Para: Luna

A luz prateada do luar transpassava as cortinas das janelas, no corredor dos aposentos superiores da enorme residência.
Ao acariciar meu rosto com seu calor quase imperceptível de tão suave, tive uma sensação nostálgica. Abri as cortinas e uma das janelas, para observar as nuvens transitando em frente à Lua.
Quando o céu se limpou, minutos após a transição das nuvens, percebi algo estranho no luar: suas partes escuras, que outrora desenhavam um coelho, para alguns, ou ilustrava uma batalha épica entre um dragão e São Jorge, para outros, haviam simplesmente desaparecido.
Como se não bastasse tal surpresa, pude ver uma pessoa, tão brilhante quanto a própria Lua, sentada sobre o telhado da varanda à minha frente: você.
Encarava com os olhos arregalados, surpresa, aquele brilho noturno excepcionalmente belo.
"UAAAAAAAAU" - Você gritou - "BRILHAAANTE!"
Assustado, me afastei um pouco da janela, mas, você veio até mim.
"Hey! Me desculpe pelo susto, não é sempre que posso ver a Lua dessa forma, então estava surpresa."
Ainda não conseguia reagir. Seu brilho me cegara e sequer tinha palavras para formular qualquer pergunta. Você pegou em minha mão direita e, finalmente, pude ver sua aparência: uma adolescente de cabelos dourados, presos atrás das orelhas por um arquinho com orelhas de coelho falsas; seus olhos eram acinzentados, feito prata. De suas costas, duas asas escamosas como as de um dragão, pendiam através de duas aberturas em sua armadura dourada.

"Vamos?" - Você perguntou.

"Para onde?" - Repliquei, ainda espantado.

"Ora, não é óbvio?" - Você puxou meu braço direito e o prendeu sob o seu esquerdo. Com um bater de suas asas, levou-me consigo para fora da casa, rumando os céus - "Vamos para a casa!"

Tuas gargalhadas e meus gritos de desespero preenchiam o vazio e escuro infinito a nossa volta, enquanto o brilho lunar fazia-se cada vez mais próximo. Seu grito de "CHEGAMOS", ecoou por aquela superfície enquanto você me soltava e erguia os braços para o alto. Você festejava por estar devolta ao lar, enquanto eu me perguntava em que momento acordaria daquele sonho insano.
Apesar de minhas pernas tremerem ao tentar me levantar, acabei acostumando com a diferença gravitacional e também, com você. Nos divertimos durante horas, com a gravidade baixa da Lua.
Após me cansar de tantos pulos e cambalhotas no ar, reparei em você, sentada, olhando para o céu, como havia lhe encontrado anteriormente. Aproximei-me e sentei ao seu lado.

"Veja" - Você sussurrou - "Está começando"

Olhei para a frente e vislumbrei o planeta Terra, vividamente azul.

"Olhe as estrelas ao redor" - Reparei que, delas, correntes desciam, subiam, cruzavam-se em todas as direções e prendiam-se à Terra - "O mundo é movido graças ao poder dos sonhos das pessoas. Eles carregam o planeta, com esse brilho de esperança, almejando o sucesso, mas, infelizmente, meu trabalho é monitorá-las e cortá-las quando começam a apodrecer"

"Apodrecer?" - Perguntei, completamente perdido.

Você apontou uma das correntes, que começava a enferrujar em alta velocidade. A ferrugem subia da extremidade presa à Terra, tentando alcançar a estrela. Você se levantou e, feito um raio, voou em direção à corrente, estilhaçando-a com o corte de uma espada feita de luz.
O processo se repetiu várias vezes, com várias outras correntes ao redor do mundo, até que você finalmente retornou, sentando-se ao meu lado. Derramando algumas lágrimas, você começou a explicar:

"A impureza de seu mundo triste, corrompe as esperanças dos humanos, fazendo com que as correntes que os ligam a seus sonhos se enferrujem. Antes que tal impureza chegue até a estrela, eu quebro esta ligação, e as pessoas perdem estes sonhos. Cada luz que se apaga no céu, é uma derrota da humanidade"

Olhei as luzes que flutuavam sem nenhuma base, frágeis, instáveis.

"E por que você as liberta, se ainda assim, se apagarão?" - Questionei

"Para poupá-las da dor de serem esquecidas. Elas flutuam livres por um tempo, e então..." - Você abaixou seu rosto, enquanto as estrelas começavam a cair, em uma chuva de meteoros.

Coloquei minha mão sob seu queixo e o ergui, para que visse aquela cena.

"O que você acha de tudo isso? Toda essa história?" - Você questionou, intrigada.

"É triste, que estas luzes tenham que cair, mas, veja! Não é belo?" - Você pareceu se espantar com o que seus olhos presenciavam, como se nunca tivesse visto antes, talvez, por sentir-se culpada da queda das estrelas - "Quando as estrelas caem, as pessoas na Terra as fazem pedidos, e mais uma vez, acreditam! Estrelas caem, mas, com isso, muitas outras nascem, muitas começam a brilhar mais forte e é assim que sabemos quais caminhos devemos trilhar. Enquanto você chora perante tantas estrelas cadentes, crianças na Terra se enchem de esperança por ver uma única, então, por que não tenta fazer o mesmo? Faça um pedido!"

"Meu desejo já foi realizado" - Você respondia enquanto suas lágrimas caíam - "A queda das estrelas, é tão bela quanto o luar visto da Terra"

O sorriso em seu rosto fez orgulhar-me de tudo que aprendi a seu lado. Coisas vivas em mim, que apenas fui capaz de enxergar através de ti.
Soube que o fim da noite se aproximava, ao ver que as estrelas terminavam de se despedir em suas quedas majestosas. Ainda assim, uma dúvida me assolava, e não poderia deixar de saná-la:

"Fico feliz com essa experiência, mas, diga-me, por que me trouxestes até aqui?"

Desviando seu olhar prateado das estrelas e o voltando a mim, me respondeu, sorrindo:

"Porque, de todas as estrelas vivas no firmamento, a tua é a mais brilhante. Não quero que ela caia nunca" - De meu peito, pude ver sete correntes como as outras começarem, sendo que, suas outras extremidades, prendiam-se ao Sol - "Teus sonhos são puros e belos, irradiam e contagiam outras pessoas. Nunca deixe de sonhá-los"

Enquanto a luz da Lua lentamente deixava meu rosto, despertei, sentado ao lado da janela semiaberta, coberto por uma manta branca e pelos olhares das duas garotas ruivas, que não entendiam o que eu fazia ali.

Havia algo que queria ter lhe dito, mas nosso tempo foi curto demais. Portanto, venho por meio desta, contar-lhe algo ocorrido tempos atrás: Certa vez, quando éramos crianças, eu e aquela pessoa brincávamos durante a noite, quando vimos uma estrela cadente cruzar os céus. Rapidamente, seguramos a mão um do outro com força, fechamos nossos olhos e pedimos para que, um dia, pudéssemos brincar juntos, na Lua.
Desta vez, ele não estava comigo, mas ainda assim, realizei nosso sonho. Ainda assim, pude sentir a luz daquelas memórias brilharem fortemente e, graças a você, minhas lembranças dele nunca mais foram tristes.
O que sempre desejei lhe dizer, era simplesmente, obrigado.