Um bizarro bairro de desmaiadas cores... Teresa Coutinho

Um bizarro bairro de desmaiadas cores
estende-se vago pela colina,
rompendo-se solto de movimento,
como pinceladas delirantes de um esboço
engolido pela natureza.
Já no escuro, cá fora, de baixo,
vejo-o beijar a noite em êxtase de estrelas,
e ouço gemidos de moribundos
que se esvaem nos ventos leves.
Como vivem felizes sob o lume que não se extingue,
tão cheio de luar, embebido num infinito prazer…
E todavia bocejava constantemente,
entre os desbotares de gozo e de cansaço,
como se de um sonho se tratasse…
Os pássaros avançam em meu redor
e invadem-me aromas de árvores e flores,
abraçam-me as tintas, os sopros e o calor,
e eu, tal e qual… amortalhado de impressões,
e nelas a inacessível confidência dos meus sentidos.
Já não sei quem sou, nem de onde venho,
ora para onde vou. Enfim perdido
na inconsistência dos sonhos…
Flutuando, eu que me achava deitado no rochedo,
adormecido à tardinha…
Junto a mim, em mim,
a fronteira entre o ilusório e o tangível.
Em cada esquina, divagações… E a vida que corre
como um poema…