UMA JORNADA DE TIRAR O FÔLEGO Oscar... Clarete Bomfim

UMA JORNADA DE TIRAR O FÔLEGO

Oscar 2013 de melhor diretor para Ang Lee, trilha sonora original para Mychael Danna, fotografia para Claudio Miranda e efeitos visuais para Erik-Jan de Boer, Donald R. Elliott, Guillaume Rocheron e Bill Westenhofer, o filme "AS AVENTURAS DE PI" (2012) tem roteiro adaptado por David Magee do livro "A Vida de PI", de Yann Martel.
A produção mágica somente foi viável com o uso da tecnologia em 3D, transportando o público para uma jornada sem precedentes, impressionante e aterrorizante, possibilitando que este vivenciasse a experiência de estar em total isolamento, no meio do oceano, enfrentando desafios inimagináveis para sobreviver. Em momento algum Suraj Sharma, intérprete de Pi, esteve em um bote com um tigre durante as filmagens. O animal foi criado através da tecnologia CGI, sendo que um tigre verdadeiro foi usado apenas em sequências em que apareceria sozinho, como quando ele nada no oceano.
Cenas onde o reflexo das nuvens no mar, em um lindo tom alaranjado, como se o barco flutuasse entre elas - a baleia saltando sobre nosso herói, em uma imagem noturna, delineada por um luminoso tom esverdeado - o barco entre as estrelas e a exuberante floresta da ilha povoada por suricatas, apresentam uma verdadeira obra de arte da equipe de fotografia e efeitos visuais, embalados por uma trilha sonora envolvente e emocionante.
E não é que a história tem um pezinho no Brasil? Yann Martel, declarou que teve como inspiração o livro "Max e os Felinos", do escritor brasileiro Moacyr Scliar, que trazia a história de um refugiado judeu que deixava a Alemanha e cruzava o oceano Atlântico em um bote, juntamente com um jaguar (fonte: adorocinema.com/filmes).
Pi Patel (Irrfan Khan) inicia a narrativa descrevendo ao escritor, vivido por Rafe Spall, sua fantástica jornada de sobrevivência após um naufrágio, onde conviveu em um bote salva-vidas com quatro animais pertencentes ao zoológico de sua família - uma zebra, uma orangotango, uma hiena e um tigre de nome Richard Parker - quando ainda era adolescente.
Sua fé, influência oriunda de sua mãe que o apresentara a três religiões, foi fator de grande importância para que enfrentasse seus medos até chegar a terra firme. Ele acreditou verdadeiramente que iria conseguir, que passar por aquele sofrimento era a vontade de Deus e nunca desistiu. Mas o ceticismo e a racionalidade herdada do pai também foram elementos importantes para que encontrasse os meios de superar os obstáculos. Este equilíbrio entre racionalidade e espiritualidade o ajudou a viver melhor. A travessia da Índia para o Canadá representa a passagem do Pi adolescente para a vida adulta.
Muitas são as metáforas e referências encontradas no enredo, como, por exemplo, o nome dado ao tigre. Existe uma história real ocorrida no século XVIII, na Inglaterra, onde houve um motim em um navio que culminou na morte de um oficial de nome Richard Paker. No século seguinte, o poeta americano Edgar Allan Poe escreveu sobre a história de quatro náufragos que, para sobreviver, sortearam um deles para morrer e servir de alimento para os demais. E qual o nome do sortudo? Richard Parker.
É muito difícil para um jovem, tão inteligente e reflexivo, de profunda espiritualidade, aceitar a realidade trágica que o destino lhe reservou nesta jornada de sobrevivência, até mesmo vivenciando situações de canibalismo. A forma como encaramos a realidade pode mudar completamente nossa vida, principalmente em uma situação frustrante. Pi descreveu um outro olhar sobre seu problema. Há uma alternância entre realidade e ficção. Os animais descritos por PI ao escritor, também tem sua representatividade, um simbolismo.
O marinheiro (zebra) é devorado pelo cozinheiro (hiena) que, em seguida, parte para devorar sua mãe (orangotango) despertando o lado selvagem de Pi (tigre) até então adormecido naquele bote, partindo para o ataque contra o cozinheiro. O jovem Pi, foi obrigado a se alimentar da carne de todos eles para se manter vivo. É o lado selvagem que todos têm e faz parte da natureza humana, ao qual o homem recorre em situações limite.
Mas a função principal deste tigre foi manter o rapaz atento o tempo todo a cada detalhe, e isto o manteve vivo. Ter que conviver, dentro de um pequeno bote, com uma fera que estava sempre procurando devorá-lo, fez com que ele usasse de toda a sua inteligência e criatividade para torná-lo um companheiro de viagem e não uma ameaça. Ele focou na solução e não no problema. Deixou de reclamar e procurou o aprendizado. O tigre foi um desafio que o motivou a procurar o seu melhor.
Isso nos faz refletir sobre as bênção disfarçadas de problema que estão sempre presentes em nossa jornada - marido, sogra, patrão, colega de trabalho, professor chato... Uma vez um amigo me disse - eu me empenhei e consegui passar no concurso de Diretor de Escola só porque minha sogra disse que eu não conseguiria...
Qual é o seu tigre? Quem o provoca? O que te faz ficar atento aos detalhes e o desafia a procurar soluções para vencer os obstáculos na vida social ou no trabalho?
Use seu problema como motivação e se torne um ser humano melhor.