Tem uma mulher que eu amo. Olhos... Luanna Belmont
Tem uma mulher
que eu amo.
Olhos doídos, pálpebras mornas.
Já acalentou crianças,
deu-lhes o corpo,
alimentou, limpou suas lágrimas,
fez sorrir com voz calma.
Filhos, talvez netos.
Soube renascer neles tantas vezes.
Conhece a fragilidade humana.
Eu beijo os lábios
fechados dessa mulher,
a partir dos cantos,
em pequenas lascas de ternura
e queda no vazio.
Essa mulher viveu coisas
que me abastecem.
Ela fala de alegrias,
de sóis, sobremesas, decotes,
livros, enganos.
Vai falando e contornando dores
com pequenas pausas,
no que os cílios superiores tocam
os cílios inferiores demoradamente,
e ela afunda.
Aperto sua mão e ela emerge.
Enquanto a ouço,
beijo seus olhos.
Digo-lhe que é uma mulher, ainda.