Tempo O tempo, depende. Não há conta... Caio Brandão

Tempo



O tempo, depende.
Não há conta que resolva...
Ciência assídua nem galho arruda livro.
Tempo é assim mesmo...dependente físico.

Quando perguntam o nome não aborreço como palestram sobre a idade.

Ah, a idade que tenho não é idade de se responder com perguntas.


Ainda que eu não possa escapar da nomeação que me rotula, sou do tempo mofo exato naquela velha maleta de avô.

No entanto hesito ou entrego a morrer.

Há coisas na vida que necessitam economia, o tempo por exemplo.


Confio no acaso.

Ele que há de proteger o que sou eu um inteiramente motor vulnerável, de poucos cavalos, mas fiéis os cavalos, o olho do cavalo é um oráculo e

Os cavalos nem sempre cavalgam, os também cavalos divagam...e se deitam na sombra por descanso.



Eu caminho.

Tenho pernas que me encaminham pelo caminho.

Sem rumo sempre eu chego em alguma esquina.

No cenário de coisa urbana avisto a mesma piscina salgada escorrida do rosto, e o negror dos pêlos embranquecidos pelo calor da angústia. Existo, logo angústia.


Então, pergunto aos que perguntam...


Quanto tempo dura o abraço do abraço que restou?



Ouço que isto

Depende, pois pende

do abraço, ou abraçado.

do tamanho do braço, e a leveza do acolhimento.

O peso da mala. Saudável, resfriado, doente, ora brasado, ora hospitalizado, reticente....


Talvez seja o artifício que definha o tempo e alcança instâncias imprevisíveis morada de intervalos desenhados.

Por exemplo a prosa silenciosa entre dois apaixonados.

A historia contada pelas bocas retinas,

A dilatação de um piscar de olhos que existe apenas quando se existe mínimo e segundo vívido, então morre.

Haja tempo ao que haja velado.

Porém a vela que faz os quadros pintados no leilão desumano permanecerem pendurados e iluminados na parede frívola, pois, mesmo a vela acesa, viva e vívida, existe depois apaga.

Sino dos silêncios imensuráveis.

Penso, enquanto o tempo existe...que


É tempo de esquecer o tempo dos tempos!


Não há tempo do tempo que há
O tempo se dá o tempo que quiser
O que há dentro e somente o que dentro há
Faz o tempo um relógio de pulso, dourado e penoso, parrudo e ternura, alento ou desassosego.

Nascemos...mas
Deve haver o porquê do esquecimento...

Tempo que tempera conforme o alho


O açúcar gentil nem sempre foi bondoso.

Sal grosso nem sempre saboroso.


Culinária apimentada, esta tal de vida.


Fogo alto, baixo, e a madeira dando gosto na comida.


Têmpora atemporal, somos peixes descamados em dominante mar de instantes.


Tem polimento para reparos.


Tempo de retalhos e costuras, emendas.

Tempo de encharques dos confetes carnavais, alegres e passageiros.

Santos do templo orai por nós, meros carnavais casuais.


O sino a tocar, dando tempo em numeral.


Eu e você, milênios?


Um botequim a servir sempre em todo fígado.


A doença rasteira que nos convida alarmada e generosa.


E a vida vivida no tempo de tempo nenhum, nenhum tempo que se possa exibir os dentes ditadores do que é tempo.


Dos pêndulos renais que urinam pedras nos descalços e enchem os balões de calos.


Vida ou vidas, quanto cabe nos cabides de madeira, e as madeirites dos perfumes memoráveis.

As pérolas no fundo do oceano, as pedras soterradas, as falésias esculpidas...

Tempo
Do que pede a ida
O que pende vinda e partida.


Tempo é questão de tempo.


Não há resultado.


O tempo de mim mesmo eu invento o tempo.


Vale o tempo que tempo comigo o tempo que compartilho contigo?


Eu decido, eu zelo, eu carinho


Eu queimo, eu bebo, eu modifico.


Tempo que venta intocável

Vento que traz o vento que leva

Ou invento ou blasfêmia


Arte ou pleonasmo


Discurso ou exercício


Calvos e Menudos


Penso, e pergunto...tempo?


Quando o único afundo momento que há de vir para os carneiros de todos os pastos
em plumagem certeira, sejam jangadas sejam cruzeiras


Renatas e Retratos


Fel ou aurora


O tempo vem nós

sabendo ou nós sarnento...

O leite ressecado...e a face chupada.



Mirante do corvo,

Mamada da morte.