O tédio não é falta de estímulo.... Andrê Gazineu
O tédio não é falta de estímulo. Quanto mais distrações e estímulos externos buscamos, mais entediados ficamos. Quisera poder escrever que o sentido é a falta no sentido.
O tédio é uma é uma rocha metamórfica sílico-argilosa formada pela transformação da argila sob pressão e temperatura, petrificada em uma superfície pegajosa como as patas de uma lagartixa. Estar entediado é escapismo. É a metonímia da fuga pela fuga.
É um estado mental que escolhemos para evitar a autorreflexão e desconsideração do desejo distante.
Sentimo-nos entediados porque, dentro de nós mesmos, sabemos que podemos dar mais. O que é uma fantasia recorrente, acredito eu, em todo indivíduo propenso à fantasias. O tédio é a dor do potencial não utilizado; é uma falta de entrosamento das maravilhas que podemos oferecer à humanidade e vice-versa. Geralmente a segunda sentença é mais frequente se você é pobre. No sentido financeiro da coisa.
A presente invenção, o tédio, é um mecanismo para você repensar o seu relacionamento profundo com o mundo.
O tédio é dinâmico. Algumas pessoas podem comparar a dor de entrar em uma fila como a mesma dor de testículos presos em um moedor de carne em uma metáfora agênera.
O tédio não é externo; é como você assimila a realidade. O tédio é orgânico. É uma crise de propósito. E geralmente evitamos situações em que haja alguma espécie de crise. Ou qualquer situação que não venha a objetivar a maximização do seu rendimento reprodutivo total.
É um london system. É uma slav defense.
Meu primeiro tipo de ratazana tem uma mentalidade impulsiva e procura continuamente novas experiências onde o mundo não é o suficiente. Skydiving emocional. A ratoeira é cronicamente pouco estimulante. Alimentar o monstro da cognição é mandatório.
O segundo tipo tem o problema oposto: o mundo é um lugar empanturrado de medo em uma zona de infarto. E chamam isso de doença social quando na verdade só é outro nome para fome. Outro nome para um jogo de soma zero. Ratazanas superestimuladas e superalimentadas de infinitas opções de entretenimento e moralmente desencorajadas em uma sopa de déficit de atenção.
Sabemos que o tempo é inóspito, insípido, estéril. Até mesmo a água cristaliza tem um tom azulado quando vista em sobreposição em um buraco no gelo do ártico. O tempo: não. Atomicamente incolor. O fato é que se você não é uma ratazana de alto desempenho não fantasie sobre onde gastar seu precioso tempo. Pensar sobre isto é mais prejudicial do que a coisa em si.