"Você não pode, às vezes, só... Elíria Bianche Fernandez
"Você não pode, às vezes, só escutar o som da chuva? Ou até mesmo, o farfalhar do vento? Estar perto de uma paisagem tão bonita e só sentir a luz bater no seu rosto e refletir no resto do mundo? Nas janelas e prédios e nas gotas em superfícies. Como se algo ao redor falasse com você. Como se algo ao redor usasse a oportunidade desses momentos e procurasse memórias. Imagens antigas bem guardadas no fundo da sua alma. Coisas há muito esquecidas. Como se a beleza ao redor te fizesse chegar ao fundo do que te fez o que é, à sua essência. E do nada você tem esses _flashes_... Essas lembranças.
Umas tão boas, tão alegres... E é como se você estivesse ali, de novo, escutando risadas, ou sentindo o sorriso de alguém falando à sua orelha. Como se você voltasse pro sentimento daquele abraço ou o calor de uma bochecha encostando na sua. Como se você sentisse o sol dar cor ao seu rosto e lembrasse da visão da sua face no olho de outra pessoa, durante um período em que ambos verdadeiramente se olhavam e conversavam através desse olhar, sem palavras requeridas dos dois. Ai, esse momentos que nos são dados. Essas estranhas reflexões...
Não que esses segundos, minutos ou horas tragam a você ou a mim apenas esses tipos de recordações. Pois existem outras, não vamos mentir. Tão profundas, de uma tristeza da qual você nem sempre quer lembrar, mas só precisa. De uma raiva... Dessa angústia que faz com que algumas lágrimas caiam de novo pra que a dor seja apagada por mais um tempo e para que ela te ensina a aprender a viver. Dores que são colocadas de lado, pra que possamos seguir em frente. Mas que nunca são esquecidas. Não honestamente. Sempre estarão lá, sempre à distância de uma memória também.
Esses momentos em que o pensamento corre solto como se fosse uma criança em um amplo jardim... Esses espaços de tempo que usamos para recordar... Pra mim valem mais do que mil horas mal gastas. E temos muitas dessas, com certeza.
E há tantos desses ecos do passado que valem a pena ser postos de lado, esquecidos, mesmo que só por um período de tempo. Não acho que nenhum deles, contudo, seja tão ruim para que não queira ter outros desses _instantes reflexivos_ ... Afinal, existem coisas que vale a pena serem esquecidas, mas também, há outras, tão puras e lindas e contentes, que esmagam todas as dolorosas e sem vida. E essas, as primeiras, essas merecem e deveriam ser lembradas todos os dias.
E é com isso que eu noto, e se você não notou, vou esclarecer: A vida, independentemente da morte, das separações, das brigas, das dificuldades, ela é compensada. Com o que é realmente vida. O sorriso que te aquece, o filho que você vê nascer, o abraço daquele seu amigo, as conquistas que você alcança durante toda a luta, a paisagem que você admira, aquele almoço na sua avó, os Eu te amo que você recebe e os que você dá. Toda a beleza compensa a feiura do mundo. E é por isso que deixamos de lado as coisas ruins, deixamos de lado essas lembranças e preferimos apreciar as boas memórias. E, meu querido, enquanto essa luz brilhar... Enquanto ainda há algum sorriso, algum coração a conquistar, mais um irmão pra amar, mais um próximo... Ainda há... A esperança de muitos durante os séculos, de que o amor, perdido e encontrado, desconhecido e ao mesmo tempo, conhecido, de alguma forma, permanecerá."