Põe-nos em ferros ou em linhas? o... Rosemere Melo Sanginetto

Põe-nos em ferros ou em linhas?
o raciocínio é ferrovia,
sinuosa trilha,
da transmutação!
"o que sabes de mim exceto o que deixo sobressair?
eu sublinho e dou alguns rabiscos,
o poeta é lousa,eu sou o giz!"
assim é a escrita!
tem régua,esquadro e fita!
e o compasso da poesia,
não vê gênero ou o grau,
só faz a circunferência do irreal!
o excelso é verso que se desprende do possível,
semeio metáforas,
porque para semear realidades,
é preciso os paralelos de vias duplas!

O inteligente usa a réplica,
o experiente usa a tréplica,
o sábio vê que é inútil a dialética,
de quem não tem modéstia!

Entre diáfano e soturno,
réquiem do insolúvel,
todo ser é dúbio!

Ambíguo e recurvo,
contraste perfeito e obscuro,
entre a diástole e a sístole!
do coração que insiste,
em caracterizar símiles!

De paradoxos não ortodoxos,
e óbvios alheios a parâmetros,
o civilizado está a um milímetro de diâmetro,
do surto...do cômodo!
pânico?
só tenho do irredutível!

O léxico queixa-se perplexo!
a fonética queixa-se afônica!
a quântica queixa-se da mecânica!
a poesia consiste na dinâmica,
de ideias antagônicas!

Escrita é espectro da autoria!
transmutação e psicografia!
Quem cria,
converte
mutilação em arte,
dor em crase,
lágrima em hífen,
e o amor em antítese!
Eu sangrei em todas as páginas,
porque nenhuma adaga é mais afiada,
que a consciência materializada,
nas aspas de minhas falas...

Anjo opalino,
sou tão suscetível ao teu cristalino!
onde transpassas o intransitivo!
com morfológicas transmutações!
amo-te até expirar o cosmos,
amo-te até fenecer o incógnito,
amo-te até se esmiuçar o inexplicável,
porque até que se prove o contrário,
o amor é focado no ilegível e não no tato,
por isso toca-me o intangível,
porque prova-me com os sentidos aguçados...do abstrato!

Ó alma efêmera!
tão ingênua,
vive o pesar e o apenas,
porque o infinito,
é permanecer vivo,
na memória de alguém...