Pele Negra 19/11/2019, às 09h07min... André R. Fernandes
Pele Negra
19/11/2019, às 09h07min
Escrito por André R. Fernandes
Ouço de longe o grito da tua cútis
Vejo o sangue da tua tenaz
Inundar os ribeiros da minha vida.
O dia amanhece silencioso
As aves do campo permanecem nos ninhos
Não ventila, não há céu azul
Pois o dia amanheceu ensanguentado.
Os iníquos te sitiaram
Levaram-te para matadouro
Deixando-te despido
Insultaram-te com cusparada
Por isso ouvi a tua pele negra estrondear
Teus olhos cobertos de sangue
Teus dentes quebrados
Teu dedo médio escalpelado
Teu pescoço com grilhões
Tua boca presa à máscara de ferro
Tuas costas com marcas da chibata
Era chicoteado por ter a pele escura
É xingado por ter cabelo pixaim
É odiado por ter nascido negro
Mas não tem como mudar a cor da tua pele.
Lembro-me dos teus ais
As trilhas guardam até hoje
Tuas pisadas de fugitivo da escravidão
As copas das árvores relembram até hoje
Os negros mortos enforcados
Na Mãe África
Gozavas da liberdade
Era livre para cultuar teus deuses
Tomava banho nos rios
Mas a tua pele teve que ser machucada.