Quando autismo é visto de fora Não tem... Walkirya
Quando autismo é visto de fora
Não tem como dimensionar o autismo pra quem está fora dele. Pai, mãe, profissionais podem até entender, conceituar e chegar a uma compreensão muito próxima de tudo e muitas vezes nos ajudar a ter voz, mas a realidade é que só sabemos o que está dentro da gente e nada mais.
Nem eu como autista posso dimensionar o que há dentro de um outro autista, sua dor, sua dificuldade, seus pensamentos, como ele sente o mundo e como os sintomas e comorbidades ganham espaço dentro dele.
Porém tudo que vemos é por fora, não tem como entrar na sua mente e saber como tudo ao mesmo tempo se conecta e se desliga. Há quem diga que não sou autista, há quem diga que eu não me esforço o suficiente, há quem diga que só arrumo desculpas e me escondo atrás do autismo e suas limitações, há quem já pensou que eu era preguiçosa e uma aproveitadora por depender dos meus pais ou marido sendo adulta, há quem já me julgou e me chamou de dramática, que eu era mimada e nas crises, eu só queria chamar a atenção.
Ninguém estava dentro de mim para saber, que é triste e desesperador muitas vezes ser EU. Não conseguir estudar, não consegue trabalhar, não conseguir cortar um simples tomate sem me cortar, não conseguir colocar uma fralda no meu filho e passar talco até parecer um fantasma com a fralda toda torta.
Ninguém está dentro de mim, quando meu cérebro se cansa pelos estímulos, quando meu corpo perde toda energia e eu me esforço pra levantar e perco toda motricidade.
Ninguém está dentro de mim quando eu não sei entender as emoções e com isso atrapalho meus relacionamentos, quando eu não entendo as pessoas e elas gritam e brigam como se eu quisesse machucá-las.
Ninguém está dentro de mim pra sentir quanto as comorbidades me afetam, depressão, síndrome do pânico, disfunção executiva, dificuldade em ler e escrever, dificuldade com números e cálculos simples, coisas simples como ver a hora, esquerda e direita, quanto tudo isso é difícil e dói pra mim.
Ninguém está dentro de mim para saber quanto as crises me castigam, tiram um pedacinho de mim e me esgotam.
Ninguém está dentro de mim, como me dói e me fere, ser ingênua e sem malícia, ver quanto as pessoas se aproveitam disso.
Ninguém está dentro de mim quando me desespero pensando no futuro, sem pai e mãe, sem estabilidade financeira, sem tratamento, sem direcionamento.
Ninguém está dentro de mim quando sinto que quero colo, afago e um aconchego maternal e as pessoas não podem dar porque no mundo malicioso é errado uma pessoa adulta dar colo para outra pessoa adulta.
Ninguém está dentro de mim quando as pessoas que amo me magoam, é como se toda a dor do universo explodisse dentro do peito.
Ninguém está dentro de mim e mesmo assim continuam a falar de como é ser Eu, Autista.
Walkirya Carminatti