Neste sonho, depois da chuva de... Ricardo Carranza
Neste sonho,
depois da chuva de primavera,
a cortina de pérolas desce do céu,
resvala a relva ruiva
da inspiração do encontro:
pérolas de orvalho
irrigam a palma nua dos meus pés.
Há um outro lado da cortina
como a página de um livro? – eu penso.
Oh! ela se esvai com o sol
relógio das estações.
Mãos de seda dobram o tecido,
zelosas das gotas de orvalho,
e o recolocam no útero da árvore.
Um homem vem
puxando uma carroça de junco
cheia de pétalas rosa chá
e passa sem deixar nem mesmo
o perfume da sua presença.
Em minhas mãos vazias
um punhado de sementes
pequenos pássaros sonolentos.