ERA UMA VEZ, UM DIA DE DOMINGO Éramos... ALMEIDA, Bruno de Souza
ERA UMA VEZ, UM DIA DE DOMINGO
Éramos cercados pela paz e andávamos todos os domingos na floresta como se nunca fosse chegar ao fim, era o nosso momento de paz, você me dizia que aquela era a nossa paz e sorria alegremente em mais um belo dia.
No asfalto das ruas de outros dias lutávamos para encontrar qualquer pessoa que pudesse ser semelhante à nossa paz, até encontramos um sentimento parecido com o amor, mas como todo sentimento não era nada demais e com o tempo tudo acabou e nada era como a nossa paz, eram sentimentos breves que se passavam e chegavam ao fim, não era como um amor, era apenas um sentimento bom que terminou brevemente, mas continuamos a nossa jornada.
Na floresta trocávamos toda facilidade que tínhamos apenas para um pouco mais de paz, tranquilidade, simplicidade, admirávamos as flores, as cores, compartilhávamos amores, bondade, luz, felicidade, carinho e o amor de verdade, nos sentíamos bem e era o que precisávamos para viver livremente desprendido das dores, das vaidades, dos horrores e maus desejos do coração humano.
Eu acordei e resolvi-te ligar, mas percebi que você não estava bem, te convidei para caminhar na floresta para tentar-te apresentar novamente o nosso mundo e te fazer lembrar toda parte boa que já tínhamos experimentado e tudo o que já tínhamos realizado, saímos para andar, paramos e sentamos no meio do nada envolvido por uma bela paisagem e começamos a lembrar todas as decisões que nos fizeram chegar naquele momento; observávamos tudo em nossa volta e dizíamos que grande obra de arte têm aqui, certamente era uma das partes mais linda do código, a natureza.
Éramos aqueles que acreditávamos que a verdadeira paz não tinha fim e que o tempo não existia, andávamos nas madrugadas, parávamos sentávamos na calçada, quando eu te observava, você sempre estava vencendo o mundo, correndo contra o tempo se esquivando de todo absurdo do sistema, ficamos mudos por um tempo, você me ligou e me disse vem para cá, terminávamos a madrugada admirando a luz do dia, pensávamos se realmente o que desejávamos era o bem ou apenas a grana, abrimos mão da grana de muita grana, nos outros dias de semana você que olhava da câmera e sempre chamava para terminar o dia do seu lado deitado na cama, eu me esquivava, mas sabia que os seus braços eram o meu abrigo.
Hoje é domingo, olha que linda a luz do dia
Hoje é um dia de domingo diferente os nossos dias de domingo, hoje não existe tempo e nossas viagens atemporais tentam nos levam ainda para mais distante das condições e limites do tempo, os nossos dias de domingo nem existem por aqui, os dias nunca existiram aqui. Ao mesmo tempo que estamos tão próximos e conectados estamos distantes como o passado e presente e futuro, a nossa facilidade é que em cada viagem que realizamos temos acesso ao que chamamos de dimensão sem limites, o passado, presente, o futuro, as galáxias, os universos, todas as realidades estão ao nosso alcance e mesmo se ficássemos distante, poderíamos escolher qual o melhor momento para se conectar e manter as nossas tradições de domingo tentando assim ainda seguir alguns padrões normais de vida.
A vida e que beleza é a vida; em uma escala de tempo infinita conhecemos o sol e alguns de seus seguidores, mas não ficamos muito tempo por lá, foi apenas uma viajem; até porque os seguidores do sol não se interessavam muito pelas outras dimensões e viviam condicionados ao tempo. Todo esse pensamento nós já tínhamos abandonado e sempre desejávamos ir ainda mais além. A vida fora das condições do tempo nos entregou de presente uma percepção totalmente nova de todos os conceitos que já se havia falado, uma nova resposta, um novo caminho, uma nova realidade, não tinha limites, o que era impossível dentro das condições do tempo era natural e normal na dimensão que não existia o limite.
As dimensões, navegar em meio a dimensões ocultas, ter acesso a tudo e perceber que o tempo não tinha mais nenhum domínio sobre nós, nos deixava ainda mais interessados pelas possibilidades infinitas dentro de um universo, quando colocávamos isso em uma escala infinita e pensávamos nas outras viagens lembrávamos que a parte mais significativa era puder experimentar o amor e paz que lutávamos todos os dias para encontrar no asfalto das ruas de outros dias.
Quando retornamos da nossa viajem e novamente nos submetemos as condições do tempo lembramos que era apenas mais um de nossos dias de domingo; afinal o tempo não existia.
Resende, 21 de novembro de 2019