Bagagem Não sei quantos chãos tenho... Luciano Spagnol - poeta...

Bagagem Não sei quantos chãos tenho Cada instante um sob os pés Continuamente não me retenho Nunca me achei, sempre revés De tanto ser, só sou um lenho Em borra... Frase de Luciano Spagnol - poeta mineiro do cerrado.

Bagagem

Não sei quantos chãos tenho
Cada instante um sob os pés
Continuamente não me retenho
Nunca me achei, sempre revés
De tanto ser, só sou um lenho
Em borralho de alma, ao invés
De só vê que ruim é ser inhenho
Vejo o que sinto não é o que és
Uma vontade de ter empenho

Atento a cada tal lugarejo
Me torno eles e não a mim
Metamorfoseado no desejo
Sou eu, outro, neste jardim
E assim tão distinto cenário
O meu ser piorra sem fim
Diversos, só e questionário
Julguei o que sinto, enfim
Os chãos são o meu plenário

Deles levo um bocado, deixo
Um bocado, enfim, vou indo
Pois o que segue não queixo
Nem prevendo, nem provindo
Vou assistindo à passagem
Nesta de chegando e partindo
Vou lendo, escrevendo a paragem
Sem rever o conteúdo advindo
Em cada estória faço a bagagem

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano