Temos o costume de considerar as... Luiza Fletcher
Temos o costume de considerar as crianças obedientes e calmas como o exemplo ideal a ser seguido, mas nem sempre nos questionamos se essas pequenas pessoas, que estão na fase de brincar, cair e aprender, realmente são felizes quando observam o mundo “do lado de fora”, por mais confortável que isso seja para as pessoas ao seu redor.
Muitas crianças são educadas de uma maneira limitante, que ao invés de as incentivarem a se abrirem, falarem de seus sentimentos, as incentiva a se esconderem dentro de si mesmas, o que as coloca em um estado de angústia que com o tempo suga sua identidade e motivação.
A educação e a obediência parecem seguir um padrão imutável em muitas famílias, o que pode fazer as crianças sentir-se incompreendidas e muitas vezes até mesmo não amadas. Para muitas crianças, é muito comum ouvir que a única maneira de terem sucesso e felicidade é através da obediência, e assim, elas se distanciam cada vez mais de quem realmente são para cumprir ordens, e os pais não sabem o quanto isso pode fazê-las.
Uma coisa que precisa ser entendida é que uma obediência conseguida através de ameaças, de medo, não é pura e não irá cumprir a sua missão. Ensinar os filhos desde cedo que devem diminuir a si mesmos para agradar a vontade de outras pessoas pode causar um grande dano à sua saúde emocional. Em algum momento essas crianças deixarão de acreditar que são especiais e merecem ser felizes do jeito que são, e acabarão por permitir que qualquer um as manipule como achar melhor.
As consequências da educação autoritária na vida das crianças
As crianças podem ter diferentes personalidades. Podem ser extrovertidas e curiosas, daquelas que tocam e perguntam sobre tudo o que veem, ou podem ser mais discretas e reservadas, mantendo-se na sua até encontrarem algo que realmente desperte o seu interesse e as faça brilhar os olhos, e não há nada de errado com nenhuma dessas maneiras de ser.
No entanto, existem crianças que parecem se esconder, evitar contato visual e até mesmo a criação de novas conexões com as pessoas em suas vidas. Elas parecem se sentir mais seguras e confortáveis dentro de si mesmas. Essas crianças não têm vontade de explorar, perguntar, aprender… e sempre aceitam aquilo que lhes é imposto. Isso sim é preocupante.
É necessário estabelecermos limites e normas para nossos filhos, isso é essencial para sua formação de valores e caráter. No entanto, também devemos permitir que tenham liberdade de se expressar abertamente, porque aqueles que apenas aceitam tudo, sem questionar e mostrar sua opinião recebem uma educação autoritária e obedecem não por respeito, mas por medo.
As crianças devem entender o motivo de existirem regras, e o porquê elas precisam ser seguidas. Se apenas impormos o que desejamos, sem empatia para explicá-las, acabaremos criando pessoas dependentes, que não saberão fazer as próprias escolhas, e sempre precisarão ser guiadas por alguém.
Devemos criar crianças felizes e saudáveis e não limitadas por uma educação tóxica
Muitas vezes, os pais usam o poder e a autoridade que têm sobre os filhos para poupar tempo e fazer com que os obedeçam com mais rapidez, e na grande maioria das vezes, isso funciona, mas também traz consequências.
Essa educação baseada na urgência, na pressa, traz muitos efeitos nas vidas dos filhos, tornando-os reclusos ou inconformados, rebeldes, e perdemos a oportunidade de estabelecer um relacionamento saudável com eles, baseado na confiança e respeito.
Nem sempre é fácil nossos filhos nos obedecerem, especialmente quando por muito tempo as coisas foram baseadas em ameaças e castigos. No entanto, às vezes a resposta pode ser muito mais simples do que parece. Assim como exigimos respeito, precisamos também respeitar nossos filhos, confiar neles e incentivar sua autoestima e autenticidade.
Mostramos respeito aos nossos filhos quando dedicamos um tempo todos os dias para ouvi-los, fazer-lhes perguntas, ensinar-lhes com amor. Quando não impomos nossas vontades, mas ouvimos e levamos em consideração suas opiniões. Dessa maneira, a educação deixa de ser tóxica e se torna colaborativa, empática, com as crianças compreendendo o porquê de as coisas serem como são, e absorvendo as regras com naturalidade.
Nenhum pai quer criar filhos distantes. Queremos que nossos filhos sejam presentes (de sua própria maneira) e propensas a aprender e ver o mundo de uma forma positiva. Por isso, precisamos fazer nossa parte para promover uma educação saudável e afastar os malefícios do autoritarismo.