Um dia, eu precisei abraçar a Ponta do... Edgard Abbehusen
Um dia, eu precisei abraçar a Ponta do Humaitá e ela me abraçou de volta. Eu chorei por lá com o coração partido. Aprecei o sol chegando e falando sobre despedidas. Ao mesmo tempo, lia nomes de casais nas paredes do muro que separa a terra firme do mar. Vi nomes de casais riscados e fiquei firme ao perceber que quase todas as histórias de amor não duram para sempre. Enquanto o sol dizia ir embora, namorados passavam por mim deixando o rastro do perfume das paixões mais bonitas. Algumas vezes voltei a Ponta do Humaitá e enxerguei Salvador de longe, apesar dos pés estarem fincados em Salvador. Vi o mar intacto e ingênuo. Vi casais riscando as paredes. Ingênuos, coitados. Mas cheios de esperança. Já perdi amores por lá. Já recuperei tudo o que tinha perdido só para que, em seguida, pudesse perdesse de novo. Já perdi o pôr do sol, apesar de nunca acreditar que ele fosse capaz de ir embora de repente depois de me encantar com toda a sua beleza. Talvez algumas lágrimas que derramei ainda estejam por lá. Talvez o retrato dos amores que tive, das escolhas que fiz. Talvez o último beijo que dei. Existe algo por lá que nem eu sei. Só sei que é bonito. E não adianta dizer, escrever ou cantar o que sinto. Qualquer coisa, além disso, é especulação sentimental. É o lugar mais bonito do mundo, pois ali eu tenho o mundo nas mãos. É o meu coração refletido no mar. É o menino saltando no mar. É o casal cheio de esperança dizendo ‘até logo’ ao pôr do sol. É a vista da cidade. É a cidade que quase ninguém vê. É o sentar e respirar fundo para contemplar. E entre amores e fracassos, nunca me esqueço: A Ponta do Humaitá sempre me deixa mais ingênuo do que sou. Mais intenso do que fui. E quando o sol finalmente decide deixar o dia para as estrelas, acreditem: Salvador se torna por completo o lugar mais lindo do mundo.