Se vives juntos não grudeis em demasia... Arcise Câmara

Se vives juntos não grudeis em demasia

Todos nós somos muito diferentes, precisamos de espaço, estar grudado o tempo todo, sem deixar o outro respirar é uma situação ruim e o preço a pagar é muito alto. Não estou nem um pouco a fim de falar de regras e tal, nem quero passar a impressão que há pingos em todos os is.
Quando se termina um namoro grudento as chances de dar certo são mínimas mesmo que haja uma volta, esse estilo de vida faz afastar os amigos, os dias demoram a passar com pouco entrosamento com o mundo ao redor.
O sentimento de alívio é enorme, a impressão que se tem é que a pessoa não sabe fazer nada separado, fica perdida, aumenta os riscos de voltar com o velho relacionamento.
Diante dos meus conselhos inaudíveis, resolvi falar da minha necessidade de transplante, eu me recusava a pensar que a morte chegaria antes da chance de ter um novo rim.
Nesse processo todo, existem os que ajudam e os que não ajudam, vamos chama-los de curiosos. A regra do momento é focar na vida, no alívio que a medicação traz, reduzir a pó o sofrimento contido na memória.
Minhas necessidades mínimas não eram satisfeitas pelo Estado, ganhar um órgão de alguém que já morreu não era prioridade para as famílias. Eu não tinha medo de encarar os fatos ruins da própria vida.
Com base na minha experiência é que percebo que as colunas erguem-se separadamente, uma coisa de cada vez, um problema de cada vez e nas histórias de amor também é assim.
Quando não se é um ser único, começa o problema, sei que são percepções de uma pessoa próxima da morte, não estou desembuchando um sermão, só que depois de tantos desmaios tenho algumas convicções absolutas: O caminho a seguir é só seu.
Tem espaço para momentos importantes da sua vida, tem espaço para viver bem o momento presente, tem espaço para fazer dar certo. É justo tudo que me beneficia? Não. É justo tudo que me prejudica? Também não.
Eu me perguntava se devia me despedir da vida, era por isso que pregava o desapego das relações, não achava saudável esses grudes sem sentidos, assim como não queria cancelar minha vida em plena juventude.