Às vezes, tudo é tão claro, tão... Ricardo Ferraz
Às vezes, tudo é tão claro, tão exposto, e mesmo assim a gente tenta não enxergar, tenta enganar a dor, a situação, e mesmo que seja doloroso entender, é preciso saber que quando um amor definha a gente vai virando segundo plano, terceiro, quarto, até chegar num ponto que não fazemos parte mais de plano algum. Com o tempo, vai aumentando a distância, diminuindo a importância, os sinais já não são vistos mais. As mensagens já não tem mais força, já são apagadas sem o mínimo de cuidado. Não se ouve mais a voz, e às vezes, o silêncio se torna nossa única companhia. As lembranças, as conversas e a atenção vão se encurtando, chegando ao ponto de não se lembrar mais de como era, como tudo acontecia, como foi chegar até ali. As fases vão mudando, o ciclo vai se fechando, e o que era bonito, vira apenas uma foto amarelada pendurada na parede, como se estivesse ali apenas pra te lembrar que um dia você foi feliz. Tudo se desgasta, tudo se perde, nada volta, as coisas viram passado, algo extinto, esquecido, sugado por um mar profundo de problemas e cansaço. O interesse acaba, o desejo some, a esperança se transforma numa paisagem seca e sem vida, e mesmo que você ainda tente regar, a essência não vinga, a semente não germina mais. Você me ensinou como te amar, mas não me deu nenhum manual de como te esquecer, uma saída de emergência, uma válvula de escape, pra pelo menos tentar viver uma vida sem você do meu lado. Eu sou aquele tipo de pessoa que sempre precisa voltar pra conferir se não deixei o ferro ligado, se não esqueci a água no fogo, se a tranca da porta ficou fechada direito. O tipo de pessoa insegura, que precisa ver com os olhos pra saber se não se esqueceu de algo. Acho que por isso tantas vezes perguntei se ainda me amava, se ainda existia qualquer tipo de amor por mim, porque no fundo, eu nunca consegui fazer meu coração ter essa certeza, nunca fui bom em sinais. E nem agora, sentindo todos estes sintomas de que nada está bem, nada está como antes, eu ainda me perco sem saber que rumo tomar, o que fazer, por onde recomeçar. Sinceramente, eu pensei que o amor fosse algo que fatalmente um dia me tocaria, e de verdade tocou, e tocou de um jeito que jamais consegui encontrar uma resposta pra essa dúvida. Mas e agora, como lidar com algo tão forte, tão denso, com tanta consistência, se minha vida ficou rasa, se minha vida ficou parada no tempo com essa dúvida de onde reiniciar? Não, não compreendo muito bem, e queria que me explicasse.Sabe o que é, você me conhece bem, sabe que sei falar de mim, mas tenho dificuldade em interpretar pessoas, sinais. Sei que não deveria te perguntar isso, mas... eu posso ir embora? Eu posso desistir da gente? É isso?
Ricardo F.