Há nas figuras, timbres e sonoridades!... Rosemere Melo Sanginetto

Há nas figuras,
timbres e sonoridades!
cada protuberância,
tem dissonância,assonância ou harmonia,
depende da relativa,
da retina!
A visão é o vapor da projeção,
e o som é o gráfico da conotação!
nada é insólito demais para o coração!
Se a rima é o contorno da figura,
o figurado é a concordância mútua,
entre silvo e substância!
Os olhos são esculpidos por espectros de consciência ,
por isso nada vês além do quê acreditas!
Os ouvidos entalham a circunferência,
do inconsciente,
por isso as palavras soam diferentes,
ditas por outros lábios...
O diálogo é engraçado!
mesmas frases,
em tons de vozes diferentes,
parecem idiomas desconhecidos!
por isso não me culpe pelo erro de semântica,
precisão só existe na quântica,
a palavra é dinâmica...

Ó alma selênica,
teus versos são veias,
líricas hemorragias,
sangrias íntimas,
de aórticas rimas,
do coração anêmico,
faminto por melodias...

Transpassa-me o fulgor do etéreo!
como se transmuta o revérbero,
no vertebrado?
através do solfejo articulado,
do figurado!
fojo abismal é o abstrato!
onde o sentir é o arauto,
do introspectivo.
ó meu anjo ascendente!
eleva-me o consciente,
até o infinito!

Alva e translúcida,
a verdade é uma busca,
pela desmaterialização!
É na decomposição dos olhos,
que manifesta-se o sólido,
por isso fechas os olhos ,
e vês o teu avesso,
e hirto no travesseiro,
materializas o letárgico desejo,
de projetar-se fora de si...
A névoa espessa,
esconde pinheiros e cordilheiras,
assim é a certeza,
uma fina bruma de soberba,
que não deixa que veja,
além da cerviz!
pupila é aprendiz,
mentor é a diretriz ,
do invisível...

O que há de mais assimétrico no universo,
que a matéria que contesta o imaterial?
altercas com o vento?
ó forma abstrata é o entendimento!
ás vezes deforma a essência do que é fisiológico,
pela conveniência do filosófico,
o psicológico é um artesão hábil,
em moldar a dimensão do fato,
e o julgamento é frágil jarro,
que se espatifa no vácuo,
da subversão!
Eu caminhei sem pavimentação,
em clareiras,
áridas veredas,
onde palavras sedentas,
rastejavam à sarjeta,
como mendigos por coerência!
mas na dualidade encontrei o sentido,
porque humanos não querem argumentos,
e sim motivos!
teus olhos são narcisos,
tem estames e estigmas,
desde o estilete até a haste,
transmutam a ficção,
do anatômico!

Chora o mármore frio!
o estro sepulcral do notívago!
ó lousa púrpura!
a lamúria é túnica,
que reveste a rima,
como a aragem úmida!

No alvorecer matutino,
o florescer do emotivo,
é um lótus vítreo,
que prefigura a transição,
do tátil para o sorvo...do subjetivo!

Exclamam os címbalos,
o grunhido aferrado,
o balbucio enclausurado,
do sorumbático!
sangrei adágios,
arpejos hemorrágicos,
acordes latejavam,
enquanto me esvaía em linhas!

Anjo soturno,
a melancolia é um túmulo,
féretro jugo,
do obscuro!
o poético cria o paralelo,
entre o introspectivo e o manifesto,
descreve o reflexo invertido,
do sintomático,
porque o sentir não é estático,
está intimamente atrelado,
ao oblíquo...
o verso ás vezes é óbito,
e a dor ás vezes é o alinhavo,
que arremata-me a estrofe,
porque toda alma sofre,
o descoser...

A inteireza,
é irmã gêmea,
da miudeza!
Só percebe a beleza,
aquele que vê no minúsculo traço,
não um borrão sem formato,
mas sim o feto do magnífico!
por isso na tua íris vislumbro resquícios de galáxias,
e no fulgor do óptico,
vejo simplificado o cosmos,
do superlativo!
Quando os adjetivos falham,
e o substantivo é incomum,
é que o inefável não cabe no escrito,
não se prende aos grifos,as aspas ou ao exílio,
de uma afirmação!
o infinito não cabe na palma da mão,
mas com minhas mãos moldo as interpretações do coração!