Eu posso ver sem as imagens, mas e... Rosemere Melo Sanginetto
Eu posso ver sem as imagens,
mas e você?
posso sentir mil caracteres num tom de voz,
e nenhum caráter no teu silêncio,
não estou presa as figuras,
mas você por dentro é desfigurada,
presa ao que você rotula,
presa ao que discrimina,
presa ao que não entende...
Que cordas invisíveis,
dedilham n'álma dizeres tão ilegíveis?
se emotivos,
desprendem-se da escala da materialidade!
se ébrios,
se decompõem no prisma do lúdico!
e por isso o sentir lhe parece confuso,
tenta classifica-los em gráficos, em formas,
mas teus olhos o deformam,
o sentir nem sempre é homogêneo e estável,
ou tem centímetros cúbicos,
porque baseia-se no súbito,
como um feixe de luz oblíquo,
onde tua insensatez transita,
dispersa no cerebelo,no córtex neural ,
onde há um jogo de espelhos,
e o seu ego soberbo,
não sabe distinguir a si mesmo.
Foge do seu campo de visão,
a percepção do outro,
porque não vê o outro como ele é,
vê o outro como o que sóis,
a sua opinião é um ópio,
te consome vorazmente,
reflete o sujeito oculto atrás do espelho,
por trás das cortinas dos cílios postiços,do pó e do rímel,
tudo em você é artificial e vazio?
o bojo é falso,o corretivo é falso,o discurso é falso,
parece boneca inflável...deplorável!
tirando tudo isso nem sabe interpretar um texto,
ou criar um verso que seja ...verdadeiro.
por isso não se lê o indivíduo com olhos iníquos,
por isso o tato não é disléxico,
porque não vê o mero estético,
ou os arquétipos,
de padrões forjados da ignorância.
Mas não basta tocar só com polegares,
para tirar a impressão de alguém,
é preciso sentir o não impresso,
a fotografia pode até ser uma invenção maravilhosa,
mas quisera eu que inventassem óculos invertidos,
e você pudesse corrigir ,
o que a maquiagem e o photoshop não pode.