Sem chão, É como me sinto Noites e... anavfxp

Sem chão,
É como me sinto
Noites e dias eternos,
Infinitos sentimentos,
Infinitos desejos

Quando estou distante me sinto tão eu
Quando estou só, dou luz ao breu
Longe de todo cavaleiro das trevas,
Com a espada que julga e condena

Cortam nossas cabeças,
Não nos deixam pensar
O sonho deles é me ver em um altar

Cortam nossos braços,
Com medo da gente se machucar
Mas nos machucam apenas com o olhar

Cortam nossas pernas,
Não nos deixam caminhar
Não querem nos ver distanciar

Omito o mundo criando uma capa, um escudo
Me protegerei nem que isso signifique o fim do mundo
Me perdi dentro daqueles muros
E é isso que querem
Que eu me perca
Pra que eu os procure pra me reencontrar

Me encontrei fora daqueles muros,
Olhei meu reflexo na água,
Já estava tão distante
E meus olhos respiravam vida,
Urrando alto como um berrante
Lutei, lutei, lutei,
Meu batimento quase se foi...
E no final,
Eu me perdi de novo entre aquelas pedras

Talvez Deus criou tantos muros pra que eu percebesse o valor daquela janela,
Janela tão pequena,
Mas que de vez em quando me permite ver o sol

“O coração bom sempre carrega uma cruz”
Foi o que um coelho ruivo e maluco um dia me disse
Jamais conheci um Coelho tão sábio

Bato os pés todos os dias no tapete de bem-vindo
Bem-vindo ao mundo
Onde o bem é raridade,
Onde quem tem bolso domina,
Onde quem tem bolso controla,
Onde quem tem bolso teve o coração retirado

Talvez eu encontre tantos muros pela minha passagem,
Pra que eu possa escalar e enxergar a paisagem
Talvez esses muros não me prendam
Mas me permitam olhar o céu que é tão vago,
nesse mundo cruel

“O bem sempre vence o mal”
Isso é história pra criança no maternal
O mal que sempre vence o bem,
Porque o bem não se preocupa em vencer

O mal no mundo real está no topo,
Sorrindo com ouro entre os dentes.
O mal não passa sufoco,
Está rindo de suas vitórias,
Vivendo seus tempos de glória
São poderosos, mas tão pequenos
Perdem seu tempo derramando veneno

O bem no mundo real,
todo dia acorda cedo pra por a roupa no varal,
Anda descalço em dia de sol,
Ri de bobagens como se todos os dias fossem carnaval
É pisado por quem carrega o mal
Mas no final,
É o único que morre com o coração imortal

Famoso preço pelo sucesso,
Preço pelo excesso.

No início,
Tínhamos Rios,
Habitávamos em árvores
Éramos livres,
Impenetráveis.
Talvez fossemos frágeis,
Mas pense,
Quanto mais tempo duramos,
mais selvagens nos tornamos

E quem é esse “homem selvagem”?
O homem que caçava para ter o que comer?
Ou o homem que mata por uma cadeira maior e se sentir mais importante?

Quem é esse “homem forte”?
O homem que se joga em frente a um leão para proteger quem ama?
Ou o homem atrás do tiro, aquele que aperta o gatilho?

A força dos covardes foi confundida com a força de verdade
Somos todos fracos,
Nos escondemos atrás de máquinas.
Atrás de um computador,
destruímos vidas,
Atrás de um revólver,
destruímos famílias,
Atrás de muralhas,
fazemos guerras,
Atrás de volantes,
corremos contra o tempo,
Atrás de uma caneta,
destruímos a liberdade com uma sentença.
Mas de frente para o outro,
Vemos o quanto nosso corpo é pequeno
Por isso fugimos do sentimento,
Porque nos força a sermos verdadeiros
E um coração partido não tem utensílios para fazer abrigo.

E depois de tudo isso
Ousamos carregar uma cruz como pingente
Enquanto outros carregam uma cruz nas costas

E depois de tudo isso
Ousamos nos ajoelhar diante de um altar,
Quando sabemos em que a raiva nos faz pensar

Somos tão abençoados pelo nosso carro potente,
Mas quando chegamos em casa jantamos sozinhos,
Sentindo saudade de gente.

Buscas eternas,
Eterna busca humana,
Felicidade
A maior maldição do homem selvagem,
Ou melhor,
Homem covarde.