Sebastião, sábio e cego. Em uma de... Eriec Soulz
Sebastião, sábio e cego.
Em uma de minhas pesquisas pelos vilarejos do mundo, entrevistei um senhor chamado Sebastião, conversamos sobre pessoas, atualidade, vida e principalmente sobre a grande sabedoria de algumas pessoas. Cheguei ao Sr. Sebastião depois de várias indicações sobre sua vasta sabedoria “carregada numa bagagem de setenta e poucos anos” como ele mesmo diz. Ouvia-o atentamente por todo o diálogo entre perguntas, respostas e opiniões, mas por um segundo perdi a atenção ao que ele dizia e olhei fundo em seus olhos, Sebastião era cego. Aquele contato me provocou um giro de imagens na cabeça e acabei perguntando:
- Como foi que o Senhor perdeu a visão?
Perdi a graça e tentei reverter a situação:
- Perdoe-me, me expressei mal. Minha pergunta refere-se a como o Senhor superou esta perda e hoje consegue exalar esta felicidade toda sem...
Antes que eu terminasse, ele fechou os olhos e levemente inclinou a cabeça para baixo, como quem está se recordando de fatos, sorriu sincero e declarou:
- Tudo bem, tudo bem, não se desculpe. Perder a visão é uma longa história da qual não me recordo mais. Conhece aquele ditado: “O que os olhos não veem o coração não sente?”, pois bem, ao acordar sem mais nada enxergar, pensei em minha vida toda até ali, lembranças boas e ruins, conclui então que eu nunca mais seria obrigado a ver sorrisos falsos, olhares de desprezo, atos de egoísmo ou qualquer outra a maldade humana que me causasse repúdio e antes que você se pergunte ou me pergunte, as lembranças boas são tão nítidas em minha mente que quase posso toca-las. Hoje vejo o mundo com outros olhos, tenho os olhos da alma e os olhos do meu coração e com estes me são exacerbados, vejo muito mais, mesmo sendo cego.
Ele, agora olhou o céu, e abrindo os olhos conclui:
- Aquele, meu amigo, não foi o começo do meu fim, como muitos pensaram, foi o retorno de mim mesmo. Um eu mais forte, mais gentil, mais feliz.