Devo dizer a mim mesmo que eu me... Oscar Wilde
Devo dizer a mim mesmo que eu me arruinei, e que ninguém, grande ou pequeno, pode ser arruinado, exceto por sua própria mão. Estou quase pronto para dizê-lo. Estou tentando dizê-lo, ainda que, no presente momento, talvez não seja o que pensem. Essa cruel acusação eu trago sem piedade contra mim mesmo. Foi terrível o que o mundo fez para mim, mas muito mais terrível foi o que eu fiz a mim mesmo.
[...]
Diverti-me sendo um flâneur, um dândi, um homem da moda. Acerquei-me das naturezas mais baixas e das mentes mais mesquinhas. Tornei-me o dissipador do meu próprio gênio, e trouxe-me uma curiosa alegria desperdiçar uma eterna juventude. Cansado de ficar nas alturas, deliberadamente desci às profundezas, à procura de uma nova sensação. O que me era o paradoxo na esfera do pensamento tornou-se para mim a perversidade na esfera da paixão. O desejo, no fim das contas, era uma doença, ou uma loucura, ou os dois. Cresci sem prestar atenção às vidas dos outros. Sentia prazer no que me agradava, e segui em frente. Esqueci que toda pequena ação do dia comum constrói ou destrói o caráter e que, portanto, o que alguém fez na câmara secreta um dia terá que clamar do alto dos telhados. Deixei de ser senhor de mim mesmo. Deixei de ser o capitão da minha alma, e não sabia. Permiti que o prazer me dominasse. Terminei em terrível desgraça. Só me resta agora uma coisa: a humildade absoluta.
(Na obra "De Profundis")