ABUSO CONJUGAL Será que temos um... pão_diário

ABUSO CONJUGAL

Será que temos um conhecimento profundo o suficiente do casamento para respondermos adequadamente ao abuso conjugal?

Antes de respondermos a essa pergunta, vamos levar em consideração uma mulher que representa muitas, e para personificá-la, vamos imaginar que seja nossa filha ou amiga.

Ela não sabe para onde ir e se culpa por seu casamento não ter dado certo.

Sabemos que ela não é perfeita, mas o que não vimos é a freqüência com que ela chorou e o quanto batalhou para que seu casamento desse certo. Nos últimos 12 anos ela orou a Deus para dar-lhe paciência e graça para ficar com o homem que ela prometeu amar pelo resto de sua vida.

Ele a insulta, não dá carinho, diz que não a ama e que se arrepende de ter se casado com ela; e, além disso, espera que ela satisfaça seus desejos sexuais quando ele estiver com vontade. Quando ela fala em procurar ajuda, ele ameaça dizer a seus amigos que ela está mentalmente doente ou que tem um caso extraconjugal. Ela não duvida que ele mentiria para proteger-se e ele sabe que feridas no coração são difíceis de provar e deixam marcas físicas que outras pessoas não podem ver.

Quando ela confiou nos líderes da igreja, eles a aconselharam a ser mais submissa para não provocar a raiva dele. Normalmente perguntam se ele tem sido sexualmente infiel, mas ela acha que não. Alguns perguntaram se ela acha que ele é realmente um “crente”, e ela diz: “Ele diz que sim”.
Quando questionou um dos líderes porque tais questões eram importantes, ele disse que sem evidências de adultério ou abandono por um marido incrédulo, ela não tem argumentos bíblicos para deixá-lo. Os mesmos líderes disseram-lhe que a separação não é uma opção porque geralmente é o primeiro passo para o divórcio.

Perguntas difíceis: O assunto da crueldade conjugal abre uma caixa de Pandora repleta de perguntas. Se permitirmos a separação, e abrimos a porta para o divórcio, quantos casamentos serão perdidos? Como podemos saber se uma mulher não está apenas procurando por uma desculpa para sair de um casamento infeliz?

Perguntas que normalmente não são examinadas com cuidado: Por mais difíceis que sejam, elas não impedem que o Deus da Bíblia responda à possibilidade de uma verdadeira crueldade conjugal.

Moisés não só descreveu o propósito sagrado de Deus para o casamento (Gênesis 2), mas também escreveu leis garantindo a proteção do divórcio para as mulheres mais fracas e em posição desprivilegiada em Israel. Até para filhas que fossem vendidas como escravas para pagar uma dívida financeira da família (Êxodo 21:7-11), e mulheres estrangeiras capturadas como despojo de guerra (Deuteronômio 21:10-14). Moisés fez leis garantindo sua proteção de maridos que as desprezassem e negligenciassem suas obrigações conjugais.

Em outra lei, Moisés permitiu que um marido se divorciasse de sua esposa com apenas uma restrição inusitada: ele não poderia casar-se com a mesma mulher outra vez se ela tivesse divorciado ou fosse viúva de um outro homem nesse meio tempo (Deuteronômio 24:1-4). Em um sistema legal severo o bastante para determinar a sentença de morte para aqueles que cometessem adultério, Moisés identificou a crueldade de um coração endurecido que poderia ser pior do que o divórcio.

Mas é certo darmos valor a essas leis mosaicas quando Jesus corrigiu os líderes religiosos que estavam citando a tolerância de Moisés em relação ao divórcio?

Jesus corrigiu repetidamente o mau uso de Moisés. Quando conversando com homens que estavam procurando por uma escapatória legal para o divórcio “por qualquer razão”, Ele falou sobre a importância da permanência conjugal. Para tais homens, o Senhor enfatizou que a intenção original de Deus era que o casamento fosse um relacionamento que durasse a vida toda.

Mas seria um erro supormos que Jesus responderia da mesma forma para uma vítima de abuso doméstico. Ele respeitou a intenção da lei, assim como suas palavras, quando lidando com outras leis em situações paralelas.

Considere, por exemplo, a forma com que Ele aplicou a lei sabática que, sob Moisés, determinava a pena de morte pela violação. De acordo com o evangelho de Lucas, Jesus entrou em uma sinagoga no sábado e curou uma mulher que estivera encurvada por 18 anos. Quando o dirigente da sinagoga viu o que Ele fizera, ficou furioso e o acusou de violar a política de descanso do sétimo dia. No entanto, Jesus mostrou que foi o líder da sinagoga que não entendeu a intenção da lei sabática (Lucas 13:10-16). Mais tarde, em um incidente parecido, Ele perguntou: “Qual de vós, se o filho ou o boi cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado?” (14:5).

Em outra ocasião, Jesus reconheceu as exceções baseadas na intenção da lei e disse: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado” (Marcos 2:23-27). Pelo mesmo princípio, podemos seguramente dizer que o casamento foi estabelecido por causa do homem e não o homem por causa do casamento.

Mas e se não tivermos certeza se faz sentido buscarmos o Velho Testamento hoje, para orientações práticas? Se estivermos pensando assim, lembre-se do seguinte:

Paulo encorajou seus leitores a encontrar discernimento espiritual em todo o conselho de Deus, por isso escreveu: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça” (2 Timóteo 3:16). Mesmo tendo escrito essas palavras na época do Novo Testamento, Paulo disse que quando os princípios eternos da Lei e dos Profetas são interpretados e aplicados corretamente, eles nos oferecem orientação para trabalhar com relacionamentos destruídos.

Por isso, quando uma filha, irmã ou amiga contar uma história pessoal de abuso conjugal, precisamos ser cautelosos. Vamos acreditar nelas até que tenhamos razão para o contrário, e se a situação for verdadeira, não precisamos dizer-lhes sobre liderança, submissão, perdão e o risco de perder a associação da igreja. Elas precisam saber que o Deus de Moisés e Jesus não se preocupa apenas com a permanência conjugal, mas também por aqueles que estão presos pelo abuso que é pior do que a separação protetora e o divórcio.

Pai celeste, perdoa-nos por multiplicar a dor daqueles que estão vivendo com cônjuges de coração abusivamente endurecido. Por favor, dá-nos a sabedoria que precisamos para oferecer ajuda e consolo para aqueles que estão afligidos por esperanças e sonhos perdidos. —Mart De Haan