EU Atrevida, curiosa, desmiolada,... Marta Ferreira

EU
Atrevida, curiosa, desmiolada, inconsequente, este foram alguns dos adjetivos que carreguei e talvez ainda carregue por ter uma sede enorme pelo saber, pela vontade de aprender coisas novas.
Sou sim investigativa, xereta, acotoveladora porque se eu não lutar por mim quem lutará? Vivo em um país para gigantes e esperam que me acovarde frente ao que pode me levar para frente? Mulheres lutam por igualdade há anos, e agora quando começamos a ter um pequeno espaço, expectam meus braços cruzados e deixe a vida me levar? “Ah mas você já está velha para este tipo de postura deveria estar ensinando ao invés de querer aprender”, ouvi outro dia de um cidadão que falou em tão de brincadeira, mas falou. Respondi: “verdade, não sou mais uma jovenzinha, talvez eu devesse me curvar à uma sociedade retrógrada, mas o que posso fazer se arde em mim o desejo de ter acesso ao novo, inclusive se os jovens quiserem me ensinar estou aberta também. Não são eles que dominarão o mundo?”
Esta pessoa sou eu. Múltipla, multiforme, ora cansada de minhas próprias loucuras, desanimada com às mudanças hormonais, ora motivada de mangas arregaçadas pronta para guerrear por aquilo que acredito.
Mas tenho serenado. Estou mais contemplativa, admito a diminuição da minha energia, faço uso do “você tem razão” em muitos momentos só para ser feliz, contudo o que fazer quando sinto meu coração pulsar, bater, sentir, falar...”vá, siga, conquiste, não desista”. Estes sentimentos brotam que chegam a me sufocar. A vida toda fui assim. Abdico só porque estou na meia-idade? Não consigo. Nestas horas preciso cantar e ao fazê-lo me vem: “...eu vi a mulher preparando outra pessoa o tempo parou pra eu olhar para aquela barriga. A vida é amiga da arte é a parte que o sol me ensinou, o sol que atravessa essa estrada que nunca passou. Por isso uma força me leva a cantar, por isso essa força estranha, por isso é que eu canto, não posso parar por isso essa voz tamanha”. Quando entenderem que há em mim uma força estranha que me impede de parar, saberão que tantos adjetivos desagradáveis só serviram e servem para me impulsionar ainda mais. Esquecem, sou borboleta. Uma sobrevivente!