Aos pisoteados Este não é o cânone da... Suelen Queiroz
Aos pisoteados
Este não é o cânone da Revolta dos Malês amordaçada.
Nem as balas de janeiro nem as bombas do Império.
Quem fez o ódio extinto e a úlcera fechada?
De falsidade acomodada, perecendo em vitupério.
A luz da Verdade duvidosa em tempos sombrios
Porque a lâmpada do entendimento se esconde
Debaixo do Horizonte escravocrata de sonhos tão vazios.
O vil interesse e sede inimiga do pérfido dinheiro a tudo obriga, Costa de ouro, marfim e almas aprisionadas.
Choraram Olorum, o Rio Volta, África, cativeiro
E toda a terra que o oprimido pisou nas Cortes afamadas.
O muro da iniquidade anda triunfante, cercaram a Justiça.
Diante dos nativos, nas artes bélicas o apito toca Tantos horrores, a disciplina militar, a força da cobiça
Do comandante devoto que medos invoca.
Em São Salvador, um ódio certo na alma ardia
Pacífico Licutã está no cativeiro, rogam resgate.
Chamem Luiza Mahin, a Rainha da Bahia, Pai Inácio, Luis Sanim e Calafate.
O sonho de liberdade, o grito de socorro na espada
Os revoltados inclinam-se para o som da guerra.
As mensagens em árabe da quituteira Mahin exalçada
Conspiram contra o Reinado de sangue e escravos da terra.
O resto vem depois. Pelas fazendas cobiçadas,
A obstinação feroz na Pátria gentil,
Os 4 dias sem descanso da tropa sem algemas e fardas.
O sonho de paz na nação mestiça nunca existiu.
O coração de Pai Inácio, velho e pensativo, ferido
Derrotado na batalha, a ferro, fogo e chicote ardido
Lavradores, pedreiros, sapateiros, alfaiates, barbeiros,
Na escravidão urbana, somos todos prisioneiros.
"Ao vento leve e a seta bem talhada, derrame
O sangue do infiel na terra" disse o padre infame,
A cabeça inclinada consentiu
O massacre do bando hostil.
Tão brandamente as lágrimas do firmamento Como quem o Céu tinha por amigo;
Sereno o ar e os tempos de fingimento
Sem nuvens, sem receio de perigo.
Na costa da Mina, um navio cantava triste cântico Quando o mar, descobrindo, lhe mostrava
O cemitério de cativos no Atlântico.
Senhor ilustre dos Engenhos
De uma terra sem Lei para almas africanas, das armas que trazia, das naus de lenhos.
O doce açúcar no amargo de vidas humanas.
Nem sou da terra, nem da geração
Dos reis de cadáveres da Europa belicosa de mísera sorte e estranha condição.