Vida... Nem de ouro, muito menos de... Renato Galvão
Vida...
Nem de ouro, muito menos de prata.
Nem de madeira, nem de lata.
Nascido no lodo, gerando perolas.
Não sou pássaro, mas fiz revoadas.
Nunca desejei o mar, apenas o riacho.
Fui rosa e espinhos.
Bebi chuvas, afoguei orvalhos.
Chorei e aprendi enxugar lágrimas.
Errei caminhos.
Perdi atalhos.
Fui gato no telhado
E cão vira-lata no mato.
Já fui pedra.
Já fui sapato.
Já tropecei
No meio-fio errado.
Doei e não recebi.
Recebi e não doei.
Amei e não fui amado
Amado, não amei.
Vi o sol nascer.
E a noite chegar.
Vi estremecer o luar.
E o sol não esquentar.
Sonhei ser sinfonia,
Acabei canção.
Sonhei ser dia,
Achei a solidão.
Sem querer, na vida,
Encontrei a estrada.
Sem querer viver,
Trilhei esta jornada.
Hoje sou folha levada,
Sou onda na praia,
Sou poeira na estrada,
Sou o rio que deságua.
Terminar sem ouro,
Ignorando a prata,
Sentir-se realizar.
Cumprida a jornada...