DO PARAPEITO VITAL Não sou aquilo que... VANIA CLARES

DO PARAPEITO VITAL Não sou aquilo que vês... A couraça que percebes é o excesso de fragilidade, que move ou tortura. Dentro da concha cerrada, a porta em ferrol... Frase de VANIA CLARES.

DO PARAPEITO VITAL

Não sou aquilo que vês...
A couraça que percebes
é o excesso de fragilidade,
que move ou tortura.
Dentro da concha cerrada,
a porta em ferrolhos,
permito frestas que me alimentam.
E o alimento caminha filtrado
no suporte do meu parapeito.
Nele contemplo
o complexo do ser
em solidão e unidade.
Contemplo a comunhão
da beleza e ironia,
da grandeza e mediocridade,
dos rumos e destinos vãos,
do irreversível óbvio pó
e o tão divinal inevitável está
em simplesmente ser.
Em entendimento e devolução
converto o que vejo
em palavras que registro.
Em minha suposta apatia,
passam as coisas, os homens,
os fatos, e deixam cargas e marcas
e a sensação, de ser tudo
simples e infinito.
Não há nada que me exclua
ou me distancie da engrenagem.
Sou partícula num todo
de massa, cinza, éter.
Mesmo deste parapeito inescrutável
(dirás?) e vital feito placenta,
habito um universo em que sou parte
e magicamente sou todo.