Era terça-feira, início da semana,... Carina Barros FortalezaCE
Era terça-feira, início da semana, quando as encontrei. O céu estava cheio de nuvens com desenho de animais imaginários que me fazia recordar uma infância bonita. Mas de nada me valia lembrar-se de coisas boas naquele momento, pois a notícia que eu carregava não tinha cores e nem sabores de infância feliz. Aqueles olhares serenos que me acolheram naquela porta feita de sacola preta escondiam toda a tristeza e dor que há alguns dias insistia em permanecer fazendo morada naquela casa. Aquelas mulheres tinham que se fazer de forte para a sociedade do julgamento. O choro, o luto e a tristeza eram sentimentos que não podiam ser sentidos por aquela família da periferia. Não se pode ou deve chorar por pessoas ditas “ruins”, “usuárias de drogas”, “almas sebosas”. Por aqui, o choro e o luto só são permitidos para pessoas ditas “de bem” e “de poder”. O choro bonito e comovente tem classe e cor. [...] A semana passou, as nuvens continuaram a aparecer pelo céu de Fortaleza, no entanto, a minha recordação não era mais de animais imaginários, mas das lágrimas evaporadas daquelas mulheres que não podiam sequer chorar por aquele familiar que tanto amava. O céu de Fortaleza, tão cheio de nuvens bonitas, esconde lágrimas de mães, irmãs, tias e avós. Lágrimas que ninguém enxerga, que ninguém sente, que ninguém enxuga... até quando?