É amor escondido em tanta coisa, né?... Ricardo Ferraz
É amor escondido em tanta coisa, né? Pena que muitas vezes a gente não consegue ver. Tem horas que ficamos meio míopes, sendo que, amor vem até no cheiro. Tem gente que tem o dom de falar, já outros o de ouvir. Alguns nem sequer se ligam, mas sem perceber, existe amor ali também, e talvez elas, é quem amem de verdade. Tem pessoas que já nascem declamando, já outras se espremem pra soletrar uma palavrinha sequer. Isso me lembra meus tempos de escola, enquanto todo mundo corria de falar o versinho na frente da sala inteira, adivinhe quem ia? Pois é, eu mesmo. E lá vai aquele menino magricela e desajeitado de novo. Era engraçado, sempre seguia o labirinto das carteiras de cabeça baixa, doidinho pra recitar o texto, mas sempre com medo de errar. Era uma tal de risadinha daqui, conversinha dali, e lá vem a tia, que aqui a gente chamava de Dona: "Silêncio!". Naquela época, que também não é tão distante assim, elas eram respeitadas. Qualquer movimento brusco era uma gizada na testa, brincasse pra ver. Só quando o silêncio pairava é que começava, meio gaguejando no início, claro! E lá ia Cecília Meireles "Quem me compra um jardim com flores? Borboletas de muitas cores, lavadeiras e passarinhos, ovos verdes e azuis nos ninhos?" Estranho isso né, dá uma impressão que estou desviando o assunto. Na verdade, não é desvio, está tudo embutido numa coisa só, se lembra do que leu lá em cima?:“é amor escondido em tanta coisa, né?”. É que cada uma daquelas crianças que me ouviram naquele dia, que hoje me recordo, jamais se esqueceram do “jardim de Cecília”. Quando encontro um quarentão ou quarentona amiga minha na rua, sempre me perguntam: Ainda cuida do jardim? Sabe, acho que cuido sim, a gente planta amor nas pessoas através do que diz, e as pessoas nos plantam amor, quando nos ouvem.
Ricardo F.