SOU DO TEMPO em que a cortesia era comum... Paula Monteiro
SOU DO TEMPO
em que a cortesia era comum
o respeito se dava a qualquer um
e a gentileza não era moeda de troca.
SOU DO TEMPO
onde era normal se ver
alguém livremente a nos abrir a porta
onde havia palavra que nos conforta
onde o respeito era o que mais importa.
SOU DO TEMPO
onde se dava o assento a um idoso
ou a um cego desconhecido
se lia um livro
onde se ajudava a atravessar a rua
um deficiente aflito
ou um pedaço de pão a um mendigo
se doava com o coração bendito .
SOU DO TEMPO
dos sorrisos distraidos até tarde
com os melhores amigos na calçada
fazendo alarde
das canções de violão que se tocava
das poesias que a gente tanto rimava...
Sem medo dos julgamentos
e da violência
que hoje é tão frequente
e dentro de casa nos escrava .
SOU DO TEMPO
das danças na chuva de madrugada
das músicas na vitrola velha que fascinava
das cartas escritas a mão que já ansiava
da espera do encontro debruçada na janela
por um primeiro olhar que já tanto o amava.
SOU DO TEMPO
dos pés descalços na areia da praia
do cabelo ao vento a girar na gandaia
do vestido de chita e bordadinhos de cambraia
das brincadeiras com os amiguinhos de rua
toda suja de poeira e onde a alegria solta
nos fazia de cobaia.
Era pega-pega, esconde-esconde,
passa anel, barra manteiga, bolinha de gude,
amarelinha, jogo das pedrinhas...
Ahh.. era tudo tão livre, tão bom
e tão simples!...
Nem imaginava que algum dia existiria
celular, iphone , ipad , mundo virtual...
Pois o que nos fascinava mesmo
era a bagunça lá no fundo do quintal.
SOU DO TEMPO
em que as pessoas
se olhavam mais nos olhos
se abraçavam, se tocavam,
de pertinho conversavam,
se respeitavam, se conheciam, se amavam...
Todos estavam bem ocupados com suas
vidas e em curar o próximo das suas feridas.
Onde o amor e a cordialidade
eram vistas como grandeza
e recanto de felicidade.
O TEMPO passou e juro que não vi !...
Podem me chamar de retrô
de museu, de Et, de antiquada ,
de velha... rsrs
Ahh... Mas o lugar onde me sinto mais feliz
É aquele onde há um céu como bordão
e um sol no chão rabiscado por mim a giz .
Um lugar onde não existe ego, inveja
falsidade , vaidade, violência, crueldade,
nem gente infeliz ...
Mas onde existam crianças ,
animais e velhos
num cantinho de simplicidade
brincando nas cirandas do respeito
da gentileza e da igualdade .
Foi assim que cresci ...
SOU DO TEMPO
em que apesar de todas as dificuldades,
o Amor era a bagagem
que se trazia na alma em toda viagem.
