A Pastelaria Defronte À Casa Vazia De... Célia Moura
A Pastelaria Defronte À Casa Vazia De Mim
Na pastelaria defronte à casa vazia de mim
onde habito
distraio-me nas gargalhadas imbecis
das gentes rotineiras que absorvem meias de leite e galões
fazendo uma espécie de orquestra
com o autocarro parado adiante
falando da vida alheia
com a boca tão cheia
que chegam a cuspir “gafanhotos”espaciais
apanhando os mais incautos.
São raras as vezes que passo por lá,
mas gosto de observar o saltitar dos pardais em busca de migalhas.
Na pastelaria defronte à casa
onde ainda habito
o álcool ameniza as mágoas,
a marijuana devolve-lhes
os sonhos mais banais
e as crianças vagueiam soltas sem jantar
brincando e comendo gomas e chocolates.
Se ao menos fossem como os pardais da manhã a saltitar entre as mesas,
se ao menos fossem como alguns cães que certas senhoras
levam a passear aos quais compram bolos de arroz ou com eles dividem a tosta mista!
Quão estéril é a pastelaria defronte a esta casa vazia de mim!