Nem percebi o poço profundo que ela era... Arcise Câmara

Nem percebi o poço profundo que ela era

O gesto me trouxe a calma que eu precisava, eu parei para ouvi-la, ela estava imensamente tomada por problemas que pareciam solucionáveis, ela queria de verdade dormir e não acordar nunca mais.
Não é fácil nos livrarmos do que não queremos. Para ela tudo era um problema, até a desordem da casa, seu trabalho era invisível diante do limpa e desarruma, só uma pessoa que mora sozinha tem chance de ser bem-sucedida na organização e na manutenção da casa.
Uma atitude nada nobre era querer que todos fossem embora, que cada um tivesse sua vida, ela precisava aprender a renunciar, essa coisa de só fazer as coisas quando pode e na hora que pode não a alegrava.
Eu a incentivava a explorar a veia literária que pulsa nela, ela poderia escrever sobre arrumação, já que isso a incomodava bastante, poderia escrever sobre menos é mais, sobre por em ordem lugares específicos tipo: quartos, salas etc.
Vencer uma barreira difícil e se impor como indivíduo era sempre uma vitória, todas as escolhas não eram dela, foram ordens, convenções, o mesmo fenômeno ocorria em muitas coisas, ela fazia o que os outros queriam, às vezes ferindo a si mesma.
Ela sempre quis emagrecer, ter um corpo bonito, ter dinheiro dentro da carteira, sem regras familiares e sem convenções. Às vezes a família era um desnecessário apêndice. Ela chorava com sua própria história.
Muitas pessoas são deliciosas surpresas, alegram a vida de quem os cercam. Na maioria das vezes o problema é menor do que a preocupação que carregamos, sempre falo isso para minha mente.
Ela precisava se livrar de tudo, do peso que carregava, se você está em busca de um outro relacionamento, se livre de tudo, livre-se até de bens de consumo que não usa ou não precisa.
Depois que a gente destralha os sentimentos e os objetos, a vida sorrir mais leve.