Eu que nunca acreditei no amor... Deixei... Paulo Shangio

Eu que nunca acreditei no amor...


Deixei a razão de lado.

Decidido, abri meu
coração.

Permiti que o amor entrasse.

Me despi.

Me entreguei.

Agora, completamente entusiasmado com suas promessas.

O chão não mais existia.

Eu flutuava!

Eu sonhava!

Eu mergulhei profundo.

Eu realmente me apaixonei.

Eu mudei.

Vivi um conto em cada canto que eu ia.

Senti o cheiro das rosas!

O perfume dos poemas!

E a embriaguez das palavras.

Tudo era intenso.

Acreditando que nada seria efêmero.

Pois bem,

Confessaram-me um amor infindo.

Um amor que tudo suportaria.

Um amor capaz de sobreviver a tudo.

Não!

Não acreditem.

Eu posso afirmar isso.

Eu que era...

Cético.

Tépido.

Egocêntrico.

Literalmente racional.

Eu mesmo constatei...

Mentiras.

Enganos.

Fingidez.

Angústias.

Medos.

Falta de coragem.

Insatisfações.

E por último...

Negação.

O amor é uma invenção.

Inventam o amor para mil utilizações.

Para realizações literamente singular.

Inventam e chamam de eterno.

Inventam para iludir.

Inventam para desilusões.

Inventam para fazerem juras mentirosas.

Inventam para roubar a felicidade do outro.

Inventam para aprisionar e fazer refém o coração.

Constroem tudo isso através da emoção.

A emoção é a culpada!

Ela sim, deve ser condenada à prisão perpétua.

Ela é a responsável por criar sentimentos fictícios.

Por nos levar a viver sobre o julgo das recordações.

Nos fazem acreditar em sonetos.

No primeiro olhar.

No primeiro amor.

Nas frases escritas nas capas de cadernos.

Nos para-choques de caminhões ou em outdoos gigantes.

Na maioria das vezes, nos leva a uma infinita solidão.