Carta de amor traiçoeiro para Anabela... Arão Paulo Liahuca

Carta de amor traiçoeiro para Anabela

Espero com urbanidade e lisura que esta carta te encontre em perfeitas condições
de saúde. Quanto à mim, apesar da solidão que fustiga meu coração, fruto do teu
abandono, não tenho razões de queixas. Além do frio de inverno ter exagerado demais
como se fosse o prenúncio do fim do mundo; a chuva não parava de cair, o medo não
parava de bater, que até pensei em construir uma arca, pois pensava que o dilúvio estava
por vir; tudo parecia uma tempestade sem fim, a estilo de abismo de lágrimas. Pois, chovia
a todo instante, até parecia que os deuses estavam tristes, por isso lacrimejavam a todo
momento.
Apesar da tristeza que não parava de bater, apesar do frio que não parava de
incomodar, apesar da tempestade que dia após dia não parava de importunar, nada pode
fazer com que eu parasse de pensar em ti: do dia em que nos conhecemos e trocamos as
primeiras impressões, do teu doce olhar colado no meu, do teu sorriso penetrante e
cativante; das primeiras emoções que partilhamos.
Foi num dia de festa à moda escutista, denominada “Africa Scout Day” (…) Você
veio até à mim e eu fui até à ti e juntos criamos uma sintonia invejável, num olhar e piscar
de olho, tudo passou a fazer sentido entre nós, numa sintonia aconchegante como se já
tivéssemos uma relação de mil anos.
A partir daquele momento nossa paixão nasceu e passou a tomar conta de nós.
Vivemo-la! Por ela e em função dela, conhecemos o amor.
Passamos do abismo da paixão para ilha do amor!
Foi tão bonito que até hoje as sequelas moram em mim!
Tatuaste os teus desejos dentro de mim e eu permiti pois eram também os meus.
Até porque no amor estávamos unidos como a União Europeia!
Hoje, recuso-me acreditar que tudo isto já não existe; que tudo isto a ironia da tua
escolha a levou, deixando-me migalhas de ti.
Tu te foste e com a tua ida, levaste-me alegria de viver!
Soube que estás feliz, que amas novamente.
Fico feliz por saber que pelo menos você está bem.
Não quero saber o que houve, ou o que te terá motivado a me fazeres beber deste
cálice amargo da solidão. Acredito que merecia mais amor, mais consideração. Mas não
vou chorar pelo leite derramado!
Apesar de nos amarmos muito rápido, da paixão ter tomado conta de nós muito
rápido, precisava que acreditasses mais e duvidasses menos. A tua indeterminação, a tua
insegurança, o teu medo, o teu orgulho, a tua falta de paciência, a tua intolerância e
sobretudo, a tua indecisão, matou o nosso amor…
Seja feliz pelo rumo que resolveste abraçar. Meu amor será sempre teu (…).
Atentamente Arão Paulo Liahuca – Benguela aos 04/01/2019