Já tentei te matar algumas vezes, em... Ricardo Ferraz

Já tentei te matar algumas vezes, em muitas delas eu quase consegui. Cheguei a carregar o revolver e encostar no meu peito, mas quando estava quase ouvindo o click do gatilho, algo em mim doeu. Eu nunca entendi bem ao certo a minha falta de coragem, no fundo, não era nem nunca foi nada disso. É que quando estava lá, a um passo do homicídio, algo em você não me deixava cumprir a tarefa. Seria livre, poderia sair dali sem nem um pingo de culpa, como se a minha vida recomeçasse depois da tragédia, mas eu nunca consegui, e não consegui porque a grande verdade é que jamais quis isso, jamais quis, que, verdadeiramente, morresse. Como me livrar daquilo que me dá vida, como, se quando matasse você eu também me mataria? Como, de forma egoísta, não querer deixar viver o que transpôs de minha escuridão à luz? Portanto, eu não me entristeço por meu fracasso, já que sempre me fez tão forte. Eu apenas admito as coisas que me rondam todas as vezes em que tento enterrar o que sinto; eu não consigo enterrar você. Então, por todas as vezes que te odiei, por todas as vezes que desejei te ver tão longe de mim, por todas aquelas vezes que me fizesse esquecer o quanto te amei, por todas elas, escandalosamente em todas elas, eu te amei como da primeira vez.
Ricardo F.