No fundo eu acho que valeu, sabe? Valeu... Ricardo Ferraz
No fundo eu acho que valeu, sabe? Valeu as horas de luta pra não se soltar das mãos, valeu pela espera, pelos sonhos, por toda dedicação e tempo, pela casinha de bonecas, os copos lavados sobre a pia, as receitas trocadas, as verdades compartilhadas, a caixa de lápis de cor. Valeu pelas músicas, pela esperança que nos demos, pela agonia que hoje entendo que tudo já se perdia por ali. A natureza em si é perfeita e sábia, ela te mostra o que houve e aquilo que não existe mais, tudo de um jeito simples, de uma forma fácil de ser interpretada, digerida, e mesmo assim, mesmo com toda essa dependência quebrada a gente ainda acredita na sorte de poder ter amado um dia, de poder ter tido a chance de conhecer o mundo do outro. Os sonhos não dormem, quem dorme somos nós dentro daquelas coisas que sonhamos, e que, mesmo sabendo que elas nunca acontecerão, ainda vamos carregá-las para sempre dentro de nós como uma impossibilidade que quase foi possível, como algo que nunca existiu ou existirá, mas que pelo menos alguma hora também tocou no peito do outro e fez com que ele nos olhasse com amor também, entende? Tenho comigo que quando a gente constrói uma história, aquele livro é nosso, apenas nosso, o que a gente faz é colocar nele pessoas que acreditam em nós, pessoas que se sentem bem do nosso lado, pessoas que querem fazer parte da nossa vida, de nossa história, mas, que elas também possuem as delas. Eu sempre fui imensidão, nunca soube ser raso, sempre me escondi na transparência. Amor pra mim é algo tão valioso que jamais tentei ignorar, fingir, nem mesmo desprezar os sentimentos alheios pelos quais eu não pude dividir com mais alguém. Eu nunca quis arrancar uma flor de ninguém, eu sempre cuidei do meu jardim, do que é meu, para que você viesse e colhesse o que te plantei, o que sempre foi feito pra você, mas eu não sabia que, quanto mais bonito eu deixava mais pra longe voava, às vezes o amor assusta, principalmente quando não é o mesmo, e eu entendo. Eu tenho em mim cortes profundos, hematomas que a vida me deu, mas que sempre sobrevivi a todos com a mais absoluta sensação de dever cumprido, com todos os meus erros e defeitos, com toda minha falta de exatidão em meus julgamentos tolos. A gente vive o que nos é dado, e se solta quando já não é mais o que foi, mas sempre com a gratidão por ter tido a sorte de amar. A vida sempre será poesia, obrigado por toda ela que despertou em mim.
Ricardo F.