“A MORTE É A ÚLTIMA QUE DORME” Se... Luciano Calazans

“A MORTE É A ÚLTIMA QUE DORME”

Se uma nova vida da morte brota
Vivemos em um edênico e turbulento jardim
De epitáfios
Se a morte é outra espécie de vida
Aquém e além das vãs filosofias
Além e aquém de toda analogia(mortal?)
Somos o grão e o adubo
O graal e o escudo
O horizonte que emudece quando
O sol se deita em seu leito
Se aninha em seu peito
E num novo alvorecer, brada: estou aqui! Só para você!
Somos lápides e cinzas
Não de Quartas do final
Não da Quinta do Carnaval
Tigres sem Eufrates
Estige sem barqueiro
Chama sem candeeiros
Castiçais sem sombras de vela.
A vida nova morte é certeza
Qual a certeza que estamos por ora vivos
O que nos traz um parco conforto, um alívio efêmero
Que será tragado, deglutido
Pelo espaço e tempo, em úteros, convertidos.
O céu está ao nosso lado
O inferno também
O horizonte é o que nos cerca
Nos engole e nos dejeta
Num tépido e silencioso vai e vem
Como as ondas do oceano
Como o mendigo que agora observo
Resmungando como o poeta
A tradução mexicana da odisseia de Homero.

Vai acunam! Desfruta dos braços do horizonte
E em seu brado mais que demais retumbante
Desperte em luz e nos vários tons do alvorecer.

Luciano Calazans, Salvador, Bahia, 14/11/2017
À Manuca Almeida (in memoriam)