LÁ ONDE MORO... Lá onde moro é um... Nemilson Vieira de Morais

LÁ ONDE MORO...

Lá onde moro é um lugarzinho bom de viver apesar de mal aterrado ou da topografia do terreno; é abafado e outrora, muito gelado; às vezes, o micro-clima da região se comporta pitorescamente; chegando mesmo à loucura o seu comportamento.
Outro dia choveu bastante no meu bairro, do lado que eu moro, - a água da chuva até levou umas casas de um barranco e ficaram outras penduradas,levou também uma menina que desceu na enxurrada e não se soube mais notícias dela; e do outro lado da rua, a gente podia fritar um ovo no asfalto de tão quente que estava; o sol estalava mamonas.
Lá onde moro o bambu geme e a coruja pia; o galo canta meio dia. A terra treme, o boi muge e a vaca mia...
Eu vivo num cômodo só, numa fenda de rocha que nem mocó. Para o sol entrar, eu tenho que sair: de tão pequeno que é. Mas sou feliz assim mesmo onde moro.
Ele (o sol) nasce bem cedo pra todo mundo, mas lá onde moro, somente dá as caras depois das 10h da manhã; e a gente morre de tremuras todo ano, durante a estação do frio.
Lá onde moro, já foi apelidado de “Ribeirão das Trevas” - mas é um lugar de muita “luz”. De gente que brilhou e brilha, no palco da existência. Não tenho dúvida quanto a isso.
Quem ver somente “trevas” e, não “luz”, numa cidade, ou na vida de seus habitantes é míope. Ainda bem que há uma iluminura na grande maioria das pessoas e o apelido deselegante não pegou. Que bom! Ufa!...
Também adjetivaram de “Buraco do Rato” o bairro onde moro e, infelizmente não desistem de tratá-lo assim: o apelido pegou. Mas os ratos que haviam por lá nós, os moradores e eleitores, os elegemos a deputados federais e a senadores e os mandamos para Brasília. Daí, esse adjetivo pejorativo, ao meu lugar é uma injustiça que se comete.
Onde moro, os taxistas, o pessoal do UBER... Dispensam corridas pros lados de lá. O medo é a razão de ser, desse fato.
Lá onde moro, a violência preocupa, mas, não é de assustar tanto: o último homicídio acontecido em seus termos, fora há quinze (15) dias. Um evangélico matou seu irmão de fé e crença - membro da mesma congregação – usando apenas um simples canivete em tal crime. Motivo fútil.
Onde moro, eu mesmo só fui assaltado, a mão armada, duas vezes; da última vez o meliante usou como arma, simplesmente uma pedra. Sempre há uma pedra no caminho da gente.
Eu soube que as mulheres que se chamavam ”Maria das Dores”, do lugar onde moro, trocaram o sobrenome “Dores” por “Dolores”: agora atendem por Maria Dolores. Legal isso! A pronúncia ficou mais romântica e as “DORES” ficaram para trás.
Lá onde moro - o lugar e o povo - são carentes de tudo; o lugar é como se vê na imagem acima. Dispensa comentários. Desenvolve muito lentamente... A população sofre demais, por suas demandas não devidamente atendidas; o descaso da administração pública local é grande. Mas por lá se vive como pode, aguardando dias melhores.
Onde moro, depois de muita luta dos moradores, por melhorias da mobilidade urbana, autoridades dos setores, público e privado, resolveram ajudar a comunidade; mas, com uma condição: a concessionária do serviço de transportes - alegando pouca demanda de passageiros e alto custo operacional - disponibilizaria apenas um ônibus, para realizar uma única viagem por dia; o carro sairia às 6h20 da manhã para o centro de Belo horizonte - somente de ida. E nós, pobres usuários que fazemos uso desse serviço, desejando regressar para nossas casas, temos que contar com outros meios de transportes.
O lugar onde moro, não merece o descaso e os paradigmas existentes; nem há necessidade de alguém conservar esse temor ao extremo, dele. - A ponto de evitá-lo.
Brevemente deixarei o lugar onde moro e os muitos amigos de lá. - De todos os seguimentos e classes sociais; não por detestar essa terra, e sua gente, que tão calorosamente me acolhera; mas porque preciso escrever e reescrever novas páginas da minha história.
Meus parentes e amigos de infância, também ainda aguardam ansiosos, pela minha presença na terrinha, que deixei pelo lugar onde moro.

(02.05.18)