POETAR Ser poeta é, por sua vez,... Paulo Cesar Paschoalini

POETAR

Ser poeta é, por sua vez,
questionar os inúmeros “porquês”;
é roubar do tempo a rapidez
e querer o que a vida desfez.

É expressar os gritos da mudez
e fazer ouvir ruídos na surdez;
é ver no translúcido a nitidez
e saborear o doce da acridez.

É tatear o morno da tepidez
e transformar a frieza em calidez;
é despir de pudor toda nudez
e despertar a libido da frigidez.

É desembaraçar-se diante da timidez
e agigantar-se em pequenez;
é fartar-se em plena escassez
e permitir inquietação à placidez.

É tratar com suavidade a rispidez
e converter indelicadeza em polidez;
é fazer da aspereza maciez
e revelar humildade à altivez.

É propor prudência à insensatez
e buscar a cura para a morbidez;
é estar sóbrio de embriaguez
e mostrar-se demente de lucidez.

É dotar a estagnação de fluidez,
e extrair as cores da palidez;
é dar às vontades humanas solidez
e aos corações empedernidos flacidez.

E nas linhas que no papel se fez,
rascunhar, com leveza e avidez,
os desalinhos da alma, de vez,
com todas as certezas de um talvez.

(Selecionada no “5 º Concurso Nacional de Poesia”, da cidade de Descalvado-SP, e publicado na coletânea “Marcas do Tempo VIII”, no ano de 2006)