EDUCAÇÃO MOLA PROPULSORA Educação... Fábio Oliveira,...
EDUCAÇÃO MOLA PROPULSORA
Educação não tem preço, mas tem investimento e retorno certo. É dever do Estado promovê-la se realmente quer banir a ignorância. Na história, nenhuma nação elevou os padrões de vida sem priorizar a educação, que é mola propulsora. Observem a Coreia do Sul, a Finlândia, a Irlanda, o Chile e a Espanha, só para citar alguns exemplos.
A educação pública gratuita da Coreia do Sul é uma das melhores do mundo. A Coreia do Sul na década de 50 era um país na penúria. Compreendeu que educação é mola propulsora, e assumiu o compromisso com seriedade. Hoje, cresce integralmente e se encontra em situação de destaque.
O Pisa é um programa com a maior credibilidade na avaliação educacional do mundo. O alemão Andreas Schleicher é o responsável, e diz que a situação do Brasil é trágica, não somente em função do resultado da avaliação, mas por constatação ‘in loco’ nas escolas brasileiras. Diz ainda que o Brasil precisa urgentemente seguir o exemplo de outros países para sair de situação tão vexatória. Entre 57 países, o Brasil ocupa os últimos lugares em todas as disciplinas.
Com frequência ouvimos falar leviandades, tais como: “o jardim japonês, o aquário, a reforma dos estádios etc. serão obras de primeiro mundo”, subestimando a inteligência de muitos. Por que não se diz que os países desenvolvidos têm Cambridge, Yale, MIT, Oxford, Harvard? Por que não falamos em educação de primeiro mundo e investimos nas universidades e escolas?
Anseiam por equipamentos de primeiro mundo com um povo de terceiro mundo. Talvez seja o que queiram, pois o 'estandarte do sanatório geral' continuará passando, como diz Chico Buarque em sua canção. Será uma decisão inteligente? Não acho! Valorizam demais paixões inconsequentes sem fazer uma análise profunda da realidade, que está aos nossos olhos e só não vê quem não quer.
Por que não se constrói também escolas de primeiro mundo? Será que só os apreciadores do jardim japonês, os frequentadores dos estádios, os futuros usuários do aquário etc. terão direito ao conforto, enquanto nossos jovens estudantes são submetidos à humilhação de falsas escolas?
Assim como se propôs em um dos estádios de Fortaleza, que tal demolir as escolas públicas sem condições de segurança, sem estruturas confiáveis, e que não obedeçam às normas técnicas e determinações do MEC? Proponho que usem parte dos recursos próprios, e tentem uma Parceria Público-Privada para a recuperação dessas escolas, da mesma maneira que dizem fazer com outras obras.
De que adianta o jardim japonês, o aquário, arrojados estádios etc., se estarão inseridos no contexto da ignorância, da violência, da doença, da marginalidade e da miséria? Tal desenvolvimento não tem sustentabilidade, pois não passa de percepção ilusória, equivocada. Somente através da educação é que se conquista melhor distribuição de renda, se qualifica jovens para o trabalho, se desperta a criatividade para a solução de problemas e se eleva a consciência.
Não é minha intenção desqualificar o jardim japonês, o aquário e a reforma de estádios, mas é para que se tenha a compreensão de que o desenvolvimento não se resume apenas a fantasias. É preciso ter responsabilidade, pois a vida está nos cobrando nova percepção.
As leis do mercado, isoladas, não são suficientes para solucionar os graves problemas sociais. Não se melhora qualidade de vida com o reducionismo do mercado. Nesse caso o que acontece é concentração de renda e aumento excessivo da pobreza.
Considera-se a educação como efeito do desenvolvimento econômico-financeiro, mas é o contrário. Educação é a causa do desenvolvimento sustentável, pois envolve aspectos sociais, pessoais e ambientais. A maior crise não é econômico-financeira, mas é de visão e de valores. Quando mudarem a visão reducionista para a integral, todos se beneficiarão, e a educação é mola propulsora nesse processo de desenvolvimento.