Eis o que sois... Sou da forma como se... Wendel Gomes Ferri
Eis o que sois...
Sou da forma como se quer ver e, exatamente por isso, a cada nova espécie de olhar, me revelo distinto. Já fui feliz e infeliz, ou ambos ao mesmo tempo; já errei porque acertei e acertei porque errei; já fui o resignado e o inconformado sem limites; nesta vida, acredite-me, houve e há tempo para tudo. Levo a vida no limite; mato alguns leões todos os dias; e, mesmo após tantas pancadas, conheço minha força e permaneço de pé, com a cabeça erguida. Se a minha pretensão fosse chegar a lugar nenhum, bastaria para isso que eu permanecesse contido, parado; mas, definitivamente, eu não sou assim. Não quero o que é fácil; o que cai do céu; o que não desafia; o que não incita, em mim, a presença do medo; gosto da aventura, do mistério, da conquista; ser o primeiro, o segundo, o terceiro, o melhor, o pior... Nada disso interessa! Enquanto vejo a porta aberta eu quero mesmo é irromper a vida! Eu quero é ser! E não quero encontrar a perfeição em nada; o excessivamente bom, o sem defeitos, o inquestionável, é também aquele que se faz previsível, engessado, insípido; capaz de despertar em nossos corações somente respeito e grande admiração (nada a mais, nada a menos), quando, na verdade, ansiamos mesmo é pela magia de um intrigante e suave frio na barriga e por um ímpeto que nos leve a tentar superar nossos próprios desafios na tentativa de nos tornarmos um alguém melhor para o mundo, para alguém... Não espero que nada em minha vida dure para sempre; nada foi feito pra isso; o fim não é fim, mas é meio; motor da História; algoz da Humana contraproducência. Vivo a delícia dos meus tempos insanos de guerra e revolução e não acabaria com isto por nada; ao lado da mudança e da minha imortal esperança, me faço e desfaço; chego ao ponto ideal, conto a minha própria estória.
Quando escolhi o que queria ser, não hesitei: escolhi ser eu; não me arrependo; assumo conscientemente as responsabilidades inerentes às minhas escolhas -equivocadas ou não- e sigo em frente, porque o mundo não pára. Sou cético e curioso; até certo ponto, questiono a maior parte das coisas que ouço e/ou vejo; tudo tem uma lógica, ainda que ilógica; não existe acaso; não existe destino; assim como não existem verdades ou mentiras absolutas; tudo depende dos ângulos e dos instrumentos ópticos por meio dos quais a “realidade” é vista, consubstanciada, entendida...
Tenho uma alma lírica e um bom coração, mas não exagere; tenho presas também, e elas são ávidas; dirijo mal (isto é público!); tenho carisma; amo e odeio com a mesma amplitude e precisão; adoro meninas, mas amo somente as verdadeiras mulheres; sou capitalista convicto, mas antes o poder, ao dinheiro; gosto de textos bem escritos e de escrever, sobretudo; tenho hábitos e defeitos que não são incomuns aos da grande maioria; amo minha família; respeito e trato os meus amigos como trato a todos os meus irmãos, mas não espero nada de ninguém; o time sou eu e eu visto a camisa.
Ainda que a gravidade e a Razão possam me impelir a colocar os pés no chão, resisto, e sonho; não vivo acima das leis, mas vejo acima dos muros; faço o que quero, quando quero e porque quero; antes de agradar ao outro, agrado a mim; mas definitivamente conheço a importância de que se reveste a conduta cúmplice, bilateral e contraprestacional; sei retribuir.
Tenho jogo de cintura, eu não sou malandro; sou poeta e pessoa, mas não sou Fernando; sou feito Nogueira, mas, nem por isso, Armando; sou só; líquido e certo. Não sou anjo, nem demônio; ciclano ou fulano; nem o bem, nem o mal; sou imparcial; continuo a sorrir, e busco, dentro de mim, viver a transcendentalidade.
Wendel Gomes Ferri