O típico imbecil do nosso tempo não é... Olavo de Carvalho
O típico imbecil do nosso tempo não é assim chamado por ser simplesmente um imbecil que por coincidência nasceu em determinada época e não em outra; não o é nem mesmo por haver uma ligação íntima entre a nossa época e a sua imbecilidade – embora essa ligação sem dúvida exista --, mas porque o sentimento de pertencer a essa época, ao famoso 'nosso tempo', constitui de certo modo o núcleo e o ponto forte do seu modo de ser imbecil.
Com efeito, o que o caracteriza e define, distinguindo-o de todos os demais imbecis que já passaram por este mundo em outros séculos, é a sua total incapacidade de desligar-se mentalmente, por uma fração de segundo, das crenças e hábitos vigentes na nossa época, e de tentar ver as coisas como os homens do passado as viram ou como os do futuro poderão vê-las quando chegarem a este planeta. Tudo, de fato, ele enxerga e julga segundo o que aprendeu das duas autoridades supremas cuja fé pública inabalável molda e define o 'nosso tempo': a mídia e a escola – duas entidades que têm, entre outras propriedades maravilhosas, a de jamais discordar entre si.
Tão intensa e profunda é a devoção que o imbecil contemporâneo tem ao 'nosso tempo', que chega a ver nele virtudes e poderes que antigamente se atribuíam a Deus. 'Nele vivemos, nos movemos e somos', murmura ele em seu coração, orgulhoso de nada ser além de produto, criatura e filho de tão excelsa entidade, à qual deve não somente a existência, mas também a essência.