Foi um dos meus últimos plantões desse... Li Azevedo
Foi um dos meus últimos plantões desse ano.
Dois veículos, ambos com dois ocupantes cada um, foram abordados pela Policia Rodoviária Federal em um bloqueio de rotina. O da frente não obedeceu à ordem de parada do policial, e investiu sobre o mesmo. Logo em seguida, empreenderam fuga pela BR 153.
Foram perseguidos por forças policiais, e sem alternativa, os dois veículos foram abandonados em um matagal nas proximidades da rodovia. Três indivíduos conseguiram evadir-se do local, e apenas uma moça foi encontrada ainda dentro de um Toyota Corolla, local no qual os policiais também localizaram munições e entorpecentes (em grande quantidade).
A moça foi encaminhada à Delegacia de Polícia, e em interrogatório, chorou, se fragilizou, tentou comoção afirmando categoricamente que não conhecia nenhum dos indivíduos que haviam logrado êxito na fuga, e que apenas lhes pedira carona na BR 153. Que não tinha conhecimento do que transportavam.
Algum tempo depois, o COD foi acionado para a perseguição dos três indivíduos mata adentro. À princípio localizaram um deles, que reagiu à abordagem policial, e foi alvejado. Foi socorrido, mas veio a óbito.
Como de praxe, foram à Delegacia de Polícia para requisição de Laudo para Exame Cadavérico, momento que foi aproveitado para confrontar a referida moça autuada. Ela, sem um esboço sequer de qualquer emoção, continuou a afirmar que não conhecia o “de cujus”, e que nunca o vira antes.
Mais algum tempo depois, outro comparsa foi conduzido à Delegacia de Polícia pela PRF, os quais lhe deram ordem de prisão em flagrante assim que o avistaram.
Já na Delegacia de Polícia, este último indivíduo, ao cruzar com a moça acima mencionada, gritou:
- Caramba, a namorada de fulano (morto) caiu (foi presa)!
Então, é isso.
A moça foi novamente confrontada e dessa vez confessou que realmente o “de cujus” apresentado a ela era seu namorado, e que tinha conhecimento de todos os fatos.
Dessa vez ela chorou mais ainda, enquanto meu estômago revirava pelo fato de estar frente a frente com uma “pessoa” que se utiliza da “emoção” apenas para proveito próprio.
Mas meu estômago se revirou ainda mais quando o fato dela querer me enganar, me trapacear, me golpeou muito mais que um corpo inerte, em um caburão de polícia. Não que eu devesse me descabelar em razão de um traficante que morrera em confronto com a polícia, mas sinceramente, naquele momento, orgulho e morte travaram uma luta interna em mim, e o primeiro venceu.
E foi exatamente quando meu orgulho levantou a taça de campeão, que eu decidi parar com o que eu tanto amo, pelo menos por alguns meses.
Esse é o meu método de defesa.
Sempre que eu não consigo me orgulhar do que sou, diante de alguém, diante de alguma situação, em uma cidade, em um País, eu vou-me embora.
Foi isso que eu fiz, e é isso que eu quero para 2018.
Não, eu não sou “boazinha”, nunca fui e talvez jamais serei! (nem quero e não me confundam, por favor!).
Mas eu quero ter orgulho dos meus sentimentos, do que eu realmente sou, ainda que mesmo pequenina, eu não caiba nesse conceito de “inha” aí.
É isso.
Só isso.