A prestimosidade da vida com o... Luverly Menezes.
A prestimosidade da vida com o entendimento das coisas e com a clareza de nós nem sempre entra pelas janelas da frente da gente. Quando o que fomos fora, nos joga para nosso mais fundo dentro, não há concessões de verdades, tão pouco aceitações injuntivas dos porquês, nem mesmo dos não gratos e ásperos porquês. Não há arremates nos destinos, atalhar nos percursos... não há barganhas com o tempo exato de ser e, de igual modo, de deixar de ser.
Há sim, o tempo de tirar para descanso, o avental da tolerância e da passividade com os equívocos sabidos e tidos. Tempo de descortinar as janelas do adiante, ainda que de seda seja o véu se, por detrás dele, está o único seguir possível a um reencontro nascente, dulcíssimo e grato consigo. Tempo de deslizar as mãos sobre o embaço úmido nas vidraças, embaço diviso e rompante do ser. Sem importar se esse mesmo ser foi outrora, soneto ardente, fiel e víscero de mim. Tempo de rasgar o útero amadurecido pelo rigor da primeira ou da derradeira lucidez e... nascer. Cada ser nascido é um ser querido e já sido. Agigantamos o parto ao celebrarmos os gritos e os gemidos no ato para neles, apequenarmos a dor. Morremos um pouco quando perdidas de nós. Nascemos de todas as mortes e para todas as vidas quando decididas, de cada perder-se, NASCER.
Sim, nascer, posto já tão lacerado o perder. Não digo renascida porque nascida, outra me quero ser. Outra, um tanto mais esvaziada de meus avessos, de meus desajeitos, dos vazios e dos tropeços de mim . Outra, inimiga da dúvida perdiz, àquela paralisante. Outra mais íntima de si e menos vagante sem licenças no outro. Uma outra, amante plebéia ou princesa do olhar que a despe em alma. E quão louca e linda e livre alma. Outra, urdida do mais legítimo profundo de si para quiçá, jamais sabotar-se em ser e assim, jamais permitir-se censurada e abortada em ir.
Quero - me amor que vai, amor que chega , deusa profana de cada sentir, mar de chamas em cada querer. Quero - me sede imprudente, alheia ao veneno que tolhe e talha. Quero -me em cada exato ou inexato tempo, largo espaço criador e abrigo feliz de mim.